O Itaú Unibanco está contratando um escritório de advocacia para entrar com uma ação civil de reparação de danos contra seu ex-CFO, Alexsandro Broedel Lopes, e um sócio dele, Eliseu Martins.
O Itaú disse que uma investigação interna do banco – iniciada em 13 de agosto e encerrada no fim de novembro – mostrou irregularidades na conduta do executivo que violam o código de ética da instituição.
Segundo um executivo que acompanha as investigações dentro do Itaú, há “indícios de gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e associação criminosa.”
As informações reunidas pelo Itaú foram repassadas ao Coaf, ao Banco Central e à CVM, que podem decidir investigar o caso.
Na noite de ontem, o Itaú protocolou um protesto interruptivo de prescrição, uma medida judicial que determina que irregularidades praticadas num período anterior a três anos não prescrevam.
Também realizou uma AGE, no último dia 5, em que pede a anulação da aprovação das contas de Broedel de 2021 a 2023. A medida é necessária para que o banco possa recuperar valores que, segundo a instituição, foram pagos de maneira indevida.
O próximo passo é entrar com uma ação civil em janeiro, após o recesso do Judiciário. “Será uma ação longa, que vai precisar de perícia, e na qual pediremos indenização,” disse essa pessoa que acompanha as investigações.
Broedel reagiu ainda na madrugada de hoje, depois que o Itaú publicou ata em jornal com a acusação. O ex-CFO disse que as acusações são “infundadas e sem sentido,” e que tomará as “medidas judiciais cabíveis”.
Broedel ingressou no banco em 2012 e pediu demissão em julho. Estava em quarentena até janeiro, quando assumiria um cargo executivo no Santander em Madri. O nome de Broedel ainda precisa ser aprovado pelo BC espanhol. O Santander ainda não se manifestou.
Segundo o Itaú, de junho de 2019 a junho de 2024, Broedel contratou 40 pareceres da empresa Care, cujos sócios são Eliseu Martins e seu filho Eric Martins. O valor total foi de R$ 13,26 milhões.
Martins e Broedel são sócios desde 1998 em outra empresa, a Broedel Consultores. Mas o ex-CFO não havia informado ao Itaú este fato, nem seu relacionamento com Martins, como determinam os controles do banco para que sejam cumpridas exigências regulatórias.
“Dada a gravidade dos fatos, o aprofundamento das apurações envolveu também a revisão das movimentações financeiras em conta-corrente, para fins de verificação de indícios dos crimes previstos na Lei nº 9.613/98”, diz a medida judicial de ontem.
Essa análise identificou que Broedel e a Broedel Consultores receberam 56 transferências da Care e de outra empresa de Eliseu Martins, a Evam, que ele mantém em sociedade com os filhos Eric e Vinícius Martins.
Segundo o Itaú, 23 transferências – somando R$ 4,86 milhões – foram feitas em datas próximas às dos pagamentos do banco à Care.
O Itaú concluiu que o executivo recebia um rebate de cerca de 40% ao contratar os pareceres da Care.
O banco também diz não ter “localizado” 20 dos 40 pareceres, e que quatro deles foram pagos antecipadamente.
Por isso, no protesto protocolado ontem, pede uma indenização de R$ 6,6 milhões, um valor referente aos pareceres não encontrados e não entregues. Pede ainda uma indenização de R$ 4,86 milhões, valor que teria sido transferido pela Care e pela Evam a Broedel.
Como o protesto não é uma ação judicial, trata-se de uma espécie de notificação. Na ação civil, o banco pedirá a mesma indenização, e a decisão caberá ao Judiciário.
Como as irregularidades praticadas antes do período de três anos já prescreveram, ao mover o processo na Justiça o banco vai se concentrar no que foi identificado entre 2022 e 2024.
Em sua nota à imprensa, Broedel disse que “os serviços mencionados eram do conhecimento do Itaú e requeridos por diferentes áreas do banco.”
Diz ainda que Martins era fornecedor do Itaú há décadas – uma informação confirmada pelo banco. “Não vimos nenhuma irregularidade nesse fornecedor antes de 2019,” diz a pessoa que acompanha as investigações.
A investigação interna do Itaú começou por acaso. Em julho, um diretor do banco soube, de maneira informal, que Broedel fazia pareceres contábeis para outras empresas enquanto era executivo da instituição.
Este diretor informou o fato à área de riscos do Itaú, que iniciou uma investigação para apurar possíveis conflitos de interesses. No processo, descobriu que Broedel era sócio de uma empresa que continuava ativa (a Broedel Consultores) e que seu sócio atuava em outra empresa que prestava serviços para o banco (a Care).
Segundo o banco, um CFO tem alçada para contratar alguns serviços sem passar pela área de compras – pela natureza do serviço e pelo valor envolvido.
Durante a investigação, Broedel informou ao banco, de acordo com a medida judicial de ontem, que os valores transferidos pela Care e pela Evam para ele e para sua empresa eram “transferências entre sócios,” mas não apresentou documentos que comprovassem isso.
“Causa profunda estranheza que o Itaú levante a suspeita sobre supostas condutas impróprias somente depois de Broedel ter apresentado a renúncia aos seus cargos no banco para assumir uma posição global em um dos seus principais concorrentes,” conclui a nota do executivo.
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