O crescente interesse de seus clientes em investir nos criptoativos dobrou as resistências internas no Itaú.
Desde o ano passado, o banco liberou para todos os correntistas a compra de Bitcoin e Ether diretamente pelo aplicativo – e, a partir da próxima semana, a prateleira de aplicações em cripto ganhará quatro outras moedas digitais.
A plataforma do banco oferece hoje cinco criptomoedas: Bitcoin, Ether, Ripple, Solana e a stablecoin USDC.
No dia 18, o portfólio à disposição dos clientes ganhará cinco outros tokens: Chainlink, Avalanche, Litecoin, Aave e Polygon.
Originalmente, a área de digital assets do Itaú foi criada para prospectar as possibilidades da tokenização, como por exemplo nos pagamentos internacionais.
“Uma das ideias era permitir acesso a fundos exclusivos sem depender do patrimônio mínimo exigido, usando a tokenização como solução,” Eric Altafim, o diretor de produtos e corporate sales do Itaú, disse ao Brazil Journal.
O banco concluiu que a plataforma ainda não estava madura para esses fins, e decidiu reorientar a área para a custódia e venda de criptomoedas.
O motivo: os executivos do Itaú notaram que estavam perdendo recursos de clientes para corretoras especializadas em moedas digitais. Havia chegado a hora de reagir.
“O foco migrou para oferecer os serviços de custódia de criptomoedas, usando a infraestrutura tecnológica do banco,” disse Eric.
Para reforçar a área, em 2022 o banco trouxe Guto Antunes, que era o vp institucional para Brasil e América Latina da exchange Crypto.com, para ser o superintendente de digital assets.
Criada a custódia, o banco passou a desenvolver uma solução tecnológica para oferecer as moedas aos clientes sem ter que criar uma exchange. Para quem compra, a experiência é tão simples quanto colocar o dinheiro em um CDB.
No começo, o portfólio tinha apenas Bitcoin e Ether. O serviço foi sendo liberado aos poucos, a partir do final de 2023, apenas no aplicativo do banco para investimentos, o Íon. Mas em dezembro, o Itaú colocou o portfólio cripto à disposição de todos os correntistas pelo aplicativo tradicional do banco.
“Mantemos conversas constantes com os clientes para entender quais são as demandas e também as preocupações com relação a investir em criptomoedas,” disse Guto.
As pesquisas internas revelaram que havia clientes bastante interessados em ingressar no universo de aplicações cripto, mas ao mesmo tempo tinham receio de usar as exchanges ou manter recursos em digital wallets. O histórico recente de quebra de corretoras, ataques de hackers e perda de carteiras reforçou a necessidade de criar um ambiente regulado e seguro para que os potenciais investidores passassem a alocar recursos em criptoativos.
“Nosso público é bastante heterogêneo: alguns buscam proteção de capital, outros querem retorno especulativo ou rendimento,” disse Guto. “A entrada no mercado geralmente ocorre por Bitcoin e Ethereum, por serem ativos mais conhecidos e com maior quantidade de material educacional disponível.”
Após adquirir conhecimento básico nas particularidades de Bitcoin e Ethereum, o investidor começa a explorar as altcoins, avaliando fatores como qual rede será utilizada, sua velocidade, tração no mercado e casos de uso específicos, como stablecoins.
“Temos hoje desde o investidor iniciante, que compra Bitcoin pela primeira vez, superando o medo de perdas ou problemas de custódia, até clientes de alta renda que veem o ativo como propriedade digital ou instrumento de hedge,” disse Guto.
Além do Itaú, há outros quatro grandes bancos brasileiros que também já oferecem aos seus clientes de varejo a venda direta de criptoativos: Santander – por meio da plataforma Toro –, BTG, Nubank e Inter.
Isso não acontece nos bancos dos EUA, onde apenas agora foi criado um marco regulatório para os criptoativos. No Brasil, entretanto, diversas atividades desse setor já possuem um arcabouço bem definido, com regulação criada conjuntamente pelo Banco Central e CVM, e com a participação da Anbima e dos bancos.
Uma das preocupações das autoridades internacionais é o uso de criptomoedas para a lavagem de dinheiro. Para combater esse risco, o Itaú segue as normas de ‘conheça o seu cliente’ e impõe barreiras a certos tipos de negociação.
O banco não permite o wallet out – envio de cripto para outra instituição. Se quiser fazer isso, o cliente precisa vender posições de seu portfólio e transformar em reais.
O Itaú, entretanto, liberou recentemente o wallet in – depósitos de criptos. Mas aceita os ativos apenas depois de a origem ter sido certificada. Empresas especializadas monitoram as movimentações e bloqueiam ativos originários de carteiras suspeitas.
Bitcoin e Ether estão perto de suas máximas históricas, com alta em dólares de quase 30% no ano.