Seth Klarman, um dos mais respeitados gestores do mundo, acha que as políticas monetárias dos bancos centrais e os estímulos fiscais dos governos convenceram os investidores de que o risco “simplesmente desapareceu”.
Numa carta a investidores de seu fundo, noticiada pelo Financial Times de hoje, Klarman disse que os estímulos fizeram com que o mercado não cumprisse mais seu papel de formador de preços, além de impossibilitar um diagnóstico correto sobre a economia.
Klarman é cofundador do Baupost, um hedge fund de US$ 30 bilhões.
“Com tanto estímulo sendo despejado, tentar descobrir se a economia está numa recessão é como tentar identificar se você está com febre depois de tomar uma dose cavalar de aspirina,” escreveu. “Mas como sapos numa água que está lentamente fervendo, os investidores estão sendo condicionados a não reconhecer o perigo.”
Klarman é conhecido como um ‘value investor’ raiz, e já foi chamado de o “Oráculo de Boston,” numa referência a Warren Buffett. Klarman é também o autor do livro “Margin of Safety”, um clássico dos investidores de valor.
Essa não é a primeira vez que Klarman critica a política dos BCs para combater a pandemia.
Em sua carta de outubro, o gestor chamou o Federal Reserve de um “gorila de 800 quilos que tirou do mercado os investidores que normalmente dão liquidez em momentos de estresse.”
“O maior problema com essas intervenções sem precedente e continuadas feitas pelos governos e os BCs é que os riscos para o capital ficam mascarados, apesar de continuarem crescendo,” dizia a carta.
Desde suas mínimas em março de 2020, o S&P 500 já subiu mais de 75% e negocia hoje em sua máxima histórica.
Klarman também aproveitou para debater os valuations da Tesla, cuja ação disparou mais rápido que os foguetes da SpaceX. O gestor disse que a montadora que “mal dá lucro” se valorizou “além de qualquer razão lógica.”
Segundo ele, as baixas taxas de juros tornaram os fluxos de caixa projetados mais valiosos e muitos investidores usaram isso de “forma imprudente” para justificar valuations bem distantes dos padrões históricos.
“Quanto mais distante o eventual retorno, mais o valor presente está subindo,” escreveu ele. “Quando se trata do valor dos fluxos de caixa, o vasto e ilimitado futuro ganhou um terreno considerável sobre o mais firme e ancorado presente.”