A Charter Communications, dona do segundo maior serviço de TV a cabo dos EUA, retirou do ar os canais da Disney – entre eles a ESPN e a ABC – enquanto as empresas não chegam a um acordo sobre os valores e o modelo do contrato. 

O atual ecossistema de canais a cabo está “quebrado,” o CEO da Charter, Christopher Winfrey, disse em uma live com analistas na sexta-feira.

As contas não fecham porque, enquanto o número de assinantes recua ano após ano, o custo da programação tem aumentado – e boa parte disso se deve aos valores pagos pelos direitos de transmissão dos principais eventos esportivos. 

Bog IgerAs big techs, como Apple e Amazon, estão pagando bilhões para obter os direitos de transmissão de campeonatos, o que ajudou a inflar os preços. 

Enquanto isso, os americanos cancelam seus pacotes de TV a cabo para economizar e migram para os serviços de streaming, que oferecem conteúdos exclusivos em seus próprios aplicativos. 

Os serviços de TV a cabo, que tinham 99 milhões de assinantes em 2016, agora têm pouco mais de 72 milhões – e um quarto desse tombo ocorreu nos últimos cinco anos. (As empresas conseguiram compensar a perda parcialmente com a venda de banda larga.)

Os canais da Disney estão fora do ar para os 15 milhões de assinantes da Spectrum – o serviço a cabo da Charter – desde a noite de quinta-feira, e ficarão assim até que as empresas cheguem a um acordo sobre os valores e os termos da cobertura de serviços de um novo acordo. 

“Estamos na beira de um precipício,” Winfrey disse na call. “Ou avançamos para um novo modelo colaborativo ou estamos fora.” 

Em pleno feriado prolongado do Dia do Trabalho, comemorado hoje nos EUA, os clientes da TV a cabo, incluindo os moradores de Nova York e Los Angeles, não puderam assistir às partidas do US Open, o mais importante torneio de tênis do país, nem os jogos do college football. A temporada da National Football League (NFL) começa em 11 de setembro. 

Os canais da Disney estão entre os mais populares da Spectrum – o que dá a dimensão da briga que a Charter decidiu comprar com a gigante do entretenimento, deixando seus próprios clientes revoltados. 

A Disney disse sexta-feira que ofereceu manter provisoriamente as transmissões enquanto as negociações não chegam a uma conclusão, mas que a Charter “declinou.” 

A disputa aberta entre as duas companhias derrubou as ações de todo o setor na sexta-feira. Os tombos foram mais sentidos nas produtoras de conteúdo, com queda de 12% para a Warner e de 10% para a Paramount, a dona da CBS. 

As ações da Disney caíram 2,4%, e as da Charter, 3,6%. A Comcast, maior serviço de TV a cabo do país, recuaram 2,2%. Hoje as Bolsas não funcionaram por causa do feriado. 

A Charter está propondo a criação de modelos mais flexíveis de assinatura em que os clientes possam escolher, por exemplo, pacotes sem os canais esportivos – e, portanto, mais baratos. É algo comum em outros países, mas não nos EUA. O preço médio de uma assinatura de TV a cabo é de US$ 126 ao mês. 

A Disney não teria aceitado mudar o modelo e está cobrando um reajuste sobre os US$ 2,2 bilhões pagos todo ano pela Charter para a Spectrum exibir seus canais.   

Blefe ou não, os executivos da Charter dizem estar prontos para um futuro sem os canais Disney e, no lugar, fechar parcerias com a Apple e a Roku. 

Um ponto que acirra a disputa é que a Disney tem investido em seus próprios serviços de streaming. A Charter quer que a Disney disponibilize gratuitamente aos clientes da TV a cabo versões da Disney+, da ESPN+ e da Hulu – os streamings da Disney – bancadas por publicidade.

Hoje, ter a Disney+ ou o Hulu aumenta em US$ 7,99 a conta mensal do cliente da Charter.

A Disney, que também enfrenta trimestres turbulentos e um futuro incerto, rejeita a ideia. 

Numa conferência com executivos e investidores em julho, o CEO Bob Iger deixou claro que buscava alternativas para não ficar preso aos provedores de TV a cabo e oferecer conteúdo diretamente aos consumidores.

Iger disse ainda que os canais tradicionais da Disney – como a rede ABC – talvez não sejam mais estratégicos e podem ser vendidos.

A ação da Disney negocia hoje em seu nível mais baixo desde 2014. Desde seu pico mais recente, em março de 2021, a companhia perdeu 60% de seu valor.