Em meio a expectativas altas do buyside, o Inter reportou um segundo tri com expansão na rentabilidade, aceleração da carteira de crédito, especialmente no consignado privado, e uma inadimplência controlada.

O banco digital fez um ROE de 13,9% e um lucro líquido de R$ 315 milhões, praticamente em linha com as projeções do sellside. O consenso era um ROE de 14%, com um lucro de R$ 318 milhões. 

O ROE foi o maior do Inter desde o IPO e um crescimento de 100 basis points em relação ao tri passado.

santiago stel“Depois que o Inter anunciou o plano de chegar a um ROE de 30% em 2027, o mercado passou a fazer a conta de que ele teria crescer o ROE seis pontos percentuais por ano. Por essa métrica, ele teria que terminar 2025 em quase 18% para estar ‘on track’, e terminar o ano que vem em 24%,” disse um gestor que não está comprado no papel. “Agora, ele está em 13,9% e já está na metade do ano. Ele ainda pode entregar, mas o jogo não está ganho ainda.”

Para esse gestor, “a grande aposta é o consignado privado, que está dando alguns problemas no sistema do Governo. Parece um produto bom, mas que está com dificuldade de decolar.”

A carteira de crédito cresceu 8% tri contra tri, para R$ 40,2 bilhões, uma aceleração em relação ao tri passado, quando havia crescido 7%. Na comparação anual, o crescimento foi de 22%, duas vezes o crescimento do mercado. 

O destaque foi a carteira de crédito pessoal, que cresceu 11,7% e engloba o crédito consignado.

O CFO Santiago Stel disse ao Brazil Journal que o crescimento veio principalmente do consignado privado, um produto que o Inter começou a oferecer em março e onde tem um market share de 1,6%. No final do segundo tri, a carteira estava em R$ 730 milhões.

Outras carteiras que cresceram bem no tri foram a de FGTS (8% tri contra tri e 42% ano contra ano); crédito imobiliário (11% e 27%); e cartões de crédito (6% e 24%).

Na inadimplência, o NPL 15 a 90 dias melhorou 20 bps, de 4,3% para 4,1%; e o NPL 90 dias ficou estável em 4,6%. O ratio de cobertura subiu para 143%. (Em outras palavras, as provisões do Inter equivalem a 143% dos empréstimos em atraso de mais de 90 dias). 

“Por muito tempo ficamos com esse ratio em 130%, mas decidimos subir nos últimos dois trimestres,” disse o CFO. “Fizemos isso porque a carteira de consignado privado começou a ser construída agora, e demora um tempo para ter o inadimplemento, e também por conta da potencial piora do cenário macro e dos juros altos.”

Sobre as perspectivas para o segundo semestre, Santiago disse que é impossível o mercado não ser afetado pela alta Selic. 

“Mas o emprego teve uma performance melhor que o esperado e estamos crescendo a carteira quase no mesmo ritmo de quando a Selic estava em 10%. Nosso custo de funding também tem se mantido,” disse ele. “Mas estamos mais cautelosos com setores mais sensíveis aos juros, como o de empresas.”

Outro destaque do tri foi o índice de eficiência, que melhorou 170 bps, de 48,8% para 47,1%. A melhora teve a ver basicamente com a alavancagem operacional: o Inter conseguiu crescer sua receita em 9%, enquanto as despesas cresceram num ritmo menor, de 5%. 

O Inter agora serve 40 milhões de clientes, dos quais 22,7 milhões são ativos (geraram alguma receita para o banco nos últimos meses). 

O Inter vale US$ 2,9 bilhões na Nasdaq, com a ação subindo 58% desde o início do ano e 6% nos últimos doze meses.

Agora pela manhã, o BTG Pactual elevou a ação para compra. “É uma história de que gostamos faz tempo,” escreveu o analista Eduardo Rosman, e o valuation parece mais razoável considerando os resultados dos últimos anos.

Segundo ele, o Inter é uma das poucas companhias no Brasil que tem conseguido expandir tanto o top line quanto o bottom line em mais de 20% ao ano, com um índice P/L para 2026 próximo de 8x e um múltiplo price-to-book similar ao de 20 meses atrás. O BTG manteve o preço-alvo de R$ 45 para o papel, que fechou em R$ 36 ontem.