Depois de um forte rali no final do ano passado, que fez o Ibovespa subir quase 20% entre novembro e dezembro, as ações brasileiras agora passam por uma leve correção, caindo 3,2% desde o início do ano.

Essa queda, no entanto, não deve ser suficiente para mudar a tendência de alta da Bolsa brasileira. 

Para o Itaú BBA, a queda recente é resultado da realização de lucros de investidores focados em mercados emergentes e que haviam entrado com força no Brasil no final do ano passado. 

“Acreditamos, no entanto, que essa realização de lucros não é suficiente para dizer que o Ibovespa entrou numa tendência de baixa no longo prazo,” escreveu o analista Daniel Gewehr.

O Itaú disse que vê a Bolsa brasileira ‘sobrevendida’, com 73% das ações negociando abaixo de seu preço médio dos últimos 42 pregões. Há duas formas de analisar esse indicador: por um lado, ele é um sinal de que a Bolsa passa por um momentum negativo em termos de preços; por outro, pode mostrar que a Bolsa está barata. 

Na análise de longo prazo — olhando o preço médio dos últimos 200 pregões — o cenário é um pouco diferente, com 50% das ações negociando acima de sua média histórica.  

O banco também disse que seu indicador técnico mostra que o Ibovespa está hoje perto de sua zona neutra (de 127 mil pontos). Nas contas do Itaú, o Ibovespa está sobrecomprado quando ultrapassa os 140 mil pontos e sobrevendido quando cai abaixo dos 114 mil pontos.

“Esse indicador é a razão entre o preço do Ibovespa e da média móvel de seis meses no mesmo momento do tempo. Historicamente, tem sido um bom preditor de extremos,” diz o banco. 

Segundo um analista, o Ibovespa só tem conseguido se manter neste patamar porque alguns papéis com peso grande no índice têm segurado bem no início do ano. 

Esse analista nota que a Petrobras representou 39% do retorno positivo do Ibovespa este ano, contribuindo com 2.204 pontos. A segunda maior contribuição positiva foi a Ultrapar, seguida por Banco do Brasil, Itaú e Sabesp. 

Na ponta negativa, a Vale foi a maior detratora, respondendo por uma queda de 2.326 pontos do índice este ano, seguida pelo Bradesco, Localiza, B3 e RD. 

“Mas tem muito mais empresas do índice caindo no ano do que subindo,” disse o analista. “Hoje, 68 empresas do Ibovespa acumulam quedas no ano, contra apenas 19 com altas.”

Apesar dos sinais de que a Bolsa ainda está barata, Daniel, do Itaú BBA, disse que “ainda precisa haver algum trigger para ter um call de maior convicção para o mercado.”

Um trigger que poderia mudar essa percepção, do ponto de vista fundamentalista, seria uma nova revisão dos earnings das empresas, que no consolidado já foram revisados 3% para cima nos últimos três meses. 

No relatório, o Itaú também destacou os três setores que acredita terem o melhor momentum hoje — petróleo, utilities e TMT — e as seis ações que ele considera destaques nesse quesito — Petrobras, Santos Brasil, Nubank, Banco do Brasil, Vibra e Sabesp. 

O Bank of America também divulgou alguns indicadores que mostram que o Ibovespa está barato. 

O banco disse hoje que o índice (excluindo commodities) está negociando com um desconto de cerca de 10% em relação à sua média histórica. No começo do ano, esse desconto era de 5%. 

Segundo o BofA, os saques de fundos locais de ações e multimercados estão diminuindo. Na semana passada, a retirada dos fundos de ações foi próxima de zero em comparação a uma média de R$ 800 milhões por semana nos últimos três meses.

Os multimercados ainda tiveram saques semana passada, mas num patamar bem menor que a média dos últimos três meses: R$ 800 mi agora em comparação a uma média de R$ 3 bi por semana nos últimos três meses.