A Origem Energia e a TAG – o maior gasoduto do Brasil, margeando o litoral – estão criando uma joint venture para investir na estocagem de gás natural, um mercado ainda inexistente no Brasil mas muito comum na Europa.
A Origem vai contribuir para a JV seus campos depletados de gás que ficam no Polo de Alagoas – reservatórios que foram esgotados pela Petrobras no passado e que agora serão enchidos de novo com gás.
Já a TAG vai contribuir com um investimento de US$ 200 milhões (cerca de R$ 1 bilhão no câmbio de hoje), que será faseado ao longo dos próximos anos e usado para comprar equipamentos e preparar os reservatórios para começar a operar.
De imediato, a TAG vai investir US$ 30 milhões que vão permitir chegar a uma capacidade de armazenagem de 106 milhões de metros cúbicos de gás/ano.
Conforme o mercado for se desenvolvendo, a companhia fará os investimentos adicionais para atingir uma capacidade de 500 milhões de metros cúbicos/ano.
Luiz Felipe Coutinho, o CEO da Origem Energia, disse ao Brazil Journal que a capacidade total de armazenagem dos campos depletados do Polo de Alagoas é de 1,5 bilhão de metros cúbicos, mas que para usar toda essa capacidade seria preciso um investimento adicional da JV.
“O consumo de gás no Brasil hoje fica entre 50 milhões a 140 milhões de metros cúbicos/dia, a depender do despacho termelétrico,” disse ele. “Isso significa que na fase inicial vamos conseguir armazenar 1x o consumo diário do País e na fase final, 5x. Já quando o projeto estiver em sua capacidade total, vamos conseguir ter um estoque de 20 dias de consumo.”
A estocagem traz diversos benefícios para o mercado de gás.
Basicamente, ela permite ao cliente – tipicamente petroleiras e termelétricas – armazenar o gás em momentos de baixa demanda para usá-lo ou vendê-lo quando a demanda aumentar, normalmente em períodos em que o despacho das termelétricas é acionado.
Além das termelétricas, essa solução é especialmente importante para os grandes produtores do pré-sal que produzem gás associado ao petróleo.
“Se as grandes produtoras não têm onde estocar o gás em momentos de baixa demanda, elas só têm uma alternativa: reinjetar o gás no mar, deixando de aproveitar esse excedente de oferta,” disse Luiz Felipe, acrescentando que hoje metade de todo o gás produzido no Brasil é reinjetado.
Essa dinâmica faz com que o País acabe importando boa parte do gás que precisa durante os momentos de pico de demanda.
“A estocagem vai trazer uma menor dependência das importações,” disse Gustavo Labanca, o CEO da TAG. “Ela é a primeira engrenagem para tentar mudar essa armadilha em que o Brasil se encontra, e para usarmos melhor nossos recursos que são abundantes.”
Labanca diz ainda que o gás natural é o único combustível que permite fazer a transição energética, já que o carvão – usado por algumas termelétricas – é extremamente poluente. O problema do gás é não ter flexibilidade, algo que a estocagem resolve.
Apesar dos benefícios, o negócio de estocagem nunca se desenvolveu no Brasil pelo fato do País viver, até pouco tempo, uma situação de monopólio, com a Petrobras dominando todos os elos da cadeia. Com a abertura do mercado, surgiram novos players que começaram a demandar esse tipo de serviço.
Além disso, a nova Lei do Gás, aprovada em 2021, passou a prever a possibilidade da estocagem – mas a ANP ainda tem que regulamentar o assunto, uma discussão em curso neste momento.
A regulamentação vai definir exatamente como esse mercado vai funcionar e os serviços que poderão ser ofertados.
Mas na prática, o mecanismo é simples: os campos de estocagem do Polo de Alagoas já estão conectados à malha da TAG, que se conecta com toda a malha nacional.
Com isso, “qualquer gás conectado à malha nacional pode ser injetado no nosso reservatório. Depois, o gás pode ser retirado dos campos e vendido em qualquer lugar do Brasil,” disse Luiz Felipe.
O modelo de cobrança pelos serviços ainda está sendo definido pela JV, mas o CEO da Origem disse que haverá uma oferta ampla para atender diferentes perfis de clientes. “Vai ter cliente que vai querer injetar o gás e manter por 12 meses. Outros vão querer injetar num dia e retirar no seguinte.”
A Origem – que é controlada pela Prisma Capital, dona de 94% do capital – comprou o Polo de Alagoas da Petrobras por US$ 300 milhões em 2021. De lá para cá, a companhia está executando um plano de investimentos de mais US$ 300 milhões.