Os memorando de Howard Marks são a primeira coisa que Warren Buffett lê, assim que publicados.

Agora, Marks decidiu dedicar o mais recente deles a explicar por que acertou todos os calls que fez em seus 50 anos de mercado. 

O fundador da Oaktree atribui parte do sucesso ao fato de ter feito pouquíssimos calls – apenas cinco em cinco décadas – e todos em momentos de grandes distorções dos mercados.

10529 f0cebe1c dc05 0000 2592 d255ef535472“De vez em quando – uma ou duas vezes por década, talvez – os mercados sobem ou caem tanto que o argumento para a ação é convincente e a probabilidade de estar certo é alta,” escreve.

“E se eu tivesse tentado fazer 50 calls nos meus 50 anos? Ou 500? Estaria fazendo julgamentos sobre os mercados mais próximos do meio-termo – talvez um pouco para cima ou para baixo, altos ou um pouco baixos, mas não tão extremos que permitissem conclusões confiáveis.”

Para decidir o que fazer nesses momentos extremos, Marks diz que não dá para depender de informações que estão ao alcance de todos, como dados macro ou balanços de empresas.

“Todos podem estudar economia, finanças e contabilidade e aprender como os mercados devem funcionar,” escreve ele. 

“Os resultados de fato superiores vêm da exploração das diferenças entre como as coisas deveriam funcionar e como elas realmente funcionam.”

Para fazer isso, é preciso entender como os investidores se comportam ao longo dos ciclos e “medir a temperatura do mercado” (frase que dá título ao memo).

“Quando vista no longo prazo, a psicologia do investidor e, portanto, os ciclos de mercado – que parecem voláteis e imprevisíveis – flutuam de maneiras que se aproximam da confiabilidade.”

Em momentos extremos, diz Marks, os investidores que mais ganham dinheiro são os contrarians, que resistem às ondas de euforia e pessimismo. 

Mas, claro, não basta ser do contra o tempo todo. 

“Na maioria das vezes, o consenso é o mais próximo do certo que a maioria dos indivíduos pode chegar. Para ser bem-sucedido no contrarianismo, você deve entender (a) o que o rebanho está fazendo, (b) por que está fazendo isso, (c) o que há de errado com ele e (d) o que deve ser feito alternativamente e por quê.”

Como lembra o gestor, seu primeiro call certeiro veio apenas no ano 2000, quando ele já tinha mais de 30 anos de mercado e previu o colapso tech

“Isso significa que não houve altos e baixos a serem observados naqueles primeiros anos? Não. Significa que demorei todo esse tempo para adquirir os insights e a experiência necessários para detectar os excessos do mercado.”

Outro call que Marks descreve como certeiro foi feito entre 2004 a 2007, quando ele e seus sócios passaram a temer o excesso de tomada de risco por parte dos investidores, especialmente no mercado imobiliário, incentivados por uma política de juros baixos. 

Marks disse que passou a falar disso cedo demais, ainda em 2004, e as consequências foram aparecer apenas em 2008, com o estouro de outra bolha, das hipotecas subprime. 

Mas identificar o problema permitiu que a Oaktree passasse a atuar na defensiva, vendendo ativos e elevando “significativamente o nível de exigência em relação ao qual novos investimentos potenciais seriam avaliados”.

Quando o Lehman Brothers quebrou, em setembro de 2008, a tarefa passou a ser como – e se valia a pena – alocar um fundo de US$ 11 bilhões que a Oaktree havia criado no início do ano para aproveitar as oportunidades da crise que estava prevendo. 

O quarto call veio em 2012, quando ele e seus sócios previram um novo ciclo de alta do S&P 500 – que subiu 16,5% ao ano até 2021. 

E o último ocorreu no início da pandemia, quando os mercados despencaram em poucos dias – e sabia-se pouquíssimo sobre quais poderiam ser as consequências da covid.

“Enquanto algumas pessoas pensam que a ignorância em relação ao futuro significa que não devem tomar nenhuma atitude, alguém que pensa no assunto de forma lógica e sem emoção deve reconhecer que a ignorância não significa que a posição em que está é necessariamente a posição em que se deve permanecer,” afirma no memo.

“A chave, como Rudyard Kipling escreveu no poema If, é manter a cabeça no lugar quando todos ao redor estiverem perdendo as suas.”