A hora para investir em ações brasileiras é agora: os preços estão muito deprimidos e os riscos não justificam os atuais níveis de desconto da Bolsa.

Esta é a principal mensagem da carta de gestão que acaba de ser publicada pela Squadra Investimentos, que administra R$ 19 bilhões no Rio de Janeiro.

“Tem que investir quando está barato, não quando você acha que vai subir,” o fundador Guilherme Aché disse ao Brazil Journal.

Squadra

Alguns gestores e analistas da Faria Lima estão apostando que o BC vai subir a Selic a partir da próxima reunião – mas para Aché, isso não afeta em “nada” sua visão bullish para o mercado brasileiro.

“Nada, nada, nada,” disse, enfaticamente.

Segundo o gestor, os múltiplos recuaram ao mesmo patamar em que tocaram em crises agudas recentes, mas hoje os riscos são bem menores do que os momentos de maior estresse dos últimos anos.

“Quais foram? Foi a crise da covid, a crise da Dilma, a crise de 2022 – que foi a inflação gigantesca nos países envolvidos – e a crise de 2008,” disse Aché. “Então, temos um valuation muito parecido com um risco muito menor. Esta é a mensagem principal da carta.”

“Não que não tenha risco,” continuou o gestor. “O risco do Brasil, todo mundo sabe qual é o principal. É o risco fiscal. É um risco razoável, mas menor do que esses outros eventos que eu citei. Essa é uma mensagem importante.”

“As pessoas precisam investir na Bolsa quando as coisas estão muito baratas,” repetiu Aché, dizendo que os preços de hoje oferecem um excelente ponto de entrada.

Mas, como pondera a gestora na carta, os valuations atrativos dizem respeito a empresas “de qualidade.”

Usando como parâmetro o consenso de mercado para o lucro das empresas nos próximos 12 meses, a Squadra disse que o múltiplo de seu portfólio está em 10,8x – ou 9,2% de earnings yield. São níveis raras vezes vistos na história da gestora.  

Para a Squadra, a maior razão da “melancólica performance” dos ativos brasileiros tem sido a dúvida quanto ao equilíbrio fiscal.

A carta comentou o clima de “desilusão disseminada” entre os investidores locais, e diz que muitos “simplesmente jogaram a toalha.”

Na visão da gestora, esse “sentimento de desesperança tende a caracterizar um ambiente propício para realizar investimentos”.  

Aché comentou ainda que “hoje todo mundo quer investir na Bolsa americana, mas de 2000 a 2010 a Bolsa americana foi muito mal depois do estouro da bolha da internet, enquanto a brasileira acumulou enormes ganhos.

“O Brasil performou muito mal nos últimos dez anos. O gringo não quer saber de Brasil. O investidor quer investir em empresas e tecnologia,” comentou Aché. “Então aí eu faço um paralelo com a década de 2000. Era a mesma situação. O mercado americano teve performance negativa enquanto a gente voou.”

A Squadra ressalta que o mau desempenho dos índices domésticos de ações se deve, em parte, ao fato de eles não incluírem papéis listados no exterior – como é o caso sobretudo de Mercado Livre e Nubank, “histórias empresariais fantásticas” e com a maior parte de seus negócios no Brasil, mas que não fazem parte do Ibovespa.

A Squadra fez um exercício em que incluiu no Ibovespa ações de empresas listadas no exterior que cumprem os critérios para fazer parte do índice. Neste cálculo entrariam Mercado Livre, Nu, XP, Stone PagSeguro e Inter.

O retorno deste novo índice teria sido de 44,2% entre julho de 2022 e junho de 2024, batendo de longe o Ibovespa – cuja alta foi de 25,7% no período – e também o CDI, cuja rentabilidade ficou em 26,8%.

Na carta, a gestora diz que as empresas de seu portfólio terão um aumento de aproximadamente 52% em seus lucros entre 2022 e 2024. “Essa é uma variação próxima à valorização que vimos em nossa carteira long e ao rendimento dos nossos fundos nos últimos dois anos.”

Entre suas teses de maior convicção, a gestora destacou Equatorial e Energisa, com taxas internas implícitas de retorno batendo em inflação + 12% ao ano. Outros destaques são Ultrapar, Vibra, PRIO, Rumo e Multiplan.