O Credit Suisse reiterou hoje sua recomendação de compra para as ações da Ambev. O principal motivo: as vendas de cerveja não param de crescer. 

Segundo dados do IBGE, a produção de bebidas alcóolicas no Brasil subiu 15% em junho, 23% em julho, e 20% em agosto, na comparação ano contra ano. 

Com base nesses dados, bancos e investidores estão modelando que as vendas de cerveja da Ambev no Brasil — 50% do EBITDA da empresa — cresçam em volume entre 13% e 17% no terceiro tri.

A Ambev reportará o trimestre no dia 29.

Mas além de se beneficiar de um mercado mais pujante, os analistas também esperam que a Ambev ganhe share em cima da cervejaria Petrópolis, depois que a fabricante da Itaipava teve problemas de desestocagem no varejo no início da pandemia.  

A Petrópolis enfrentou uma tempestade perfeita: sofreu com falta de capital de giro para rodar as fábricas, teve que demitir mais de 5 mil funcionários e perdeu benefícios fiscais importantes — que aumentaram significativamente os custos de produção de suas cervejas (um problema sério para uma marca cujo principal apelo é preço). 

A Ambev nadou de braçada: fechou o mês de agosto com seu maior share do ano, na casa dos 60%, e deve fechar o terceiro trimestre com mais pontos de venda cadastrados do que tinha no pré-covid, segundo Pedro Leduc, que cobria a Ambev no JP Morgan e hoje é acionista da companhia na BLP Asset.

“Como muitos bares fecharam na crise, isso é uma evidência muito forte do ganho expressivo de share que ela teve. E acho que esse ganho deve ser duradouro, porque mesmo que a Petrópolis volte a distribuir em breve, a tendência é que esse dono de bar se mantenha fiel a quem estava com ele no momento de dificuldade,” Leduc disse ao Brazil Journal.  

Para a Ambev, um trimestre robusto seria uma novidade: a empresa tem decepcionado em volumes há 13 trimestres consecutivos. 

Em outro relatório publicado hoje, o BTG Pactual manteve sua recomendação neutra para a empresa, mas também disse que espera uma forte expansão de volumes no trimestre, de 17%.  

O banco disse que há três motivos por trás da alta de volume: a base de comparação é baixa, já que os volumes de venda da empresa caíram todos os trimestres desde o terceiro tri de 2016; a demanda foi impulsionada em parte pelo ‘corona voucher’; e, o mais importante, a Ambev segurou o aumento de preço. 

“A Ambev claramente começou a priorizar o crescimento do volume e o ganho de share, mesmo que às custas de preço,” escreveram os analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin, que questionam a qualidade e a sustentabilidade do que tem tudo para ser um trimestre forte. 

Leduc, da BLP Asset, acredita que nos próximos trimestres a margem EBITDA, hoje na faixa dos 30%, deve voltar a subir gradativamente, retomando no ano que vem os níveis históricos de 40-45%. 

“Fica mais fácil subir preços com um market share maior. Mas, independente disso, no quarto tri ela já vai ter um mix de vendas muito melhor, porque as pessoas naturalmente vão começar a ir mais em bares e ela vai vender mais chope e garrafa de 600 ml retornável, que é onde a margem é maior.”

Assim como a Ambev, a Heineken tem tido uma demanda espetacular nos últimos meses e um aumento expressivo nos volumes. A companhia só não vende mais porque não consegue comprar mais latas e garrafas, segundo uma fonte do mercado.

A Ambev negocia hoje a um múltiplo de 20x o lucro esperado para 2021, um desconto de 10% em comparação com sua média histórica.