O Grupo Pão de Açúcar acaba de reportar um primeiro trimestre levemente acima do consenso – mas no bottom line, efeitos contábeis fizeram o prejuízo vir bem acima do esperado.
A receita líquida total do GPA (contando com a operação dos postos) subiu 9,9% na comparação com o mesmo tri do ano passado, para R$ 4,94 bilhões. O consenso Bloomberg previa R$ 4,84 bilhões.
O ‘same-store sales’ teve crescimento de 8,1% no tri em relação ao ano passado – 5,4% ao excluir o efeito calendário, que teve a Páscoa em março.
A margem bruta da companhia subiu 1,4 ponto em um ano e chegou a 25,8% – levemente acima do esperado pelo sellside, que era de 25,6%.
O EBITDA, por sua vez, subiu 70% para R$ 380 milhões, enquanto o consenso apontava para R$ 347 milhões. A margem EBITDA ficou em 7,7%, um crescimento de 1,7 ponto ano contra ano.
“Continuamos comprometidos a entregar o guidance de margem EBITDA entre 8% e 9% ao fim de 2024, e começar o ano nesse patamar é uma ótima notícia,” o CEO Marcelo Pimentel disse ao Brazil Journal.
Mas o prejuízo consolidado da companhia veio em R$ 660 milhões, uma alta de 166,5% e bem acima da previsão de R$ 175 milhões.
Segundo o CFO Rafael Russowsky, isso aconteceu porque a companhia precisou provisionar os efeitos gerados pela adesão ao programa de quitação de débitos do ICMS (em que a GPA reduziu 80% de sua dívida de R$ 3,6 bilhões com o estado de São Paulo) e o impairment após a venda da sede administrativa anunciada no início do mês.
“Como fizemos as operações antes da publicação do balanço do primeiro tri, temos como norma provisionar,” disse o CFO.
Sem este efeito contábil, o prejuízo do GPA teria sido de R$ 197 milhões – ainda assim, acima do consenso Bloomberg.
Pimentel disse que o aumento das margens no primeiro tri foi “muito positivo” e em linha com o planejamento do turnaround da companhia – e destacou a melhora de oito dias no giro dos estoques na comparação com o ano anterior.
“O trabalho que foi feito em gestão no estoque nos permitiu investir menos em markdowns e gerir o processo de maneira mais otimizada,” disse.
Ele também destacou o sexto trimestre com ganhos de market share – uma alta de 0,2 ponto em relação ao mesmo período do ano passado.
A empresa também passou a divulgar neste trimestre a alavancagem financeira pré-IFRS 16, que inclui as despesas de aluguéis.
Em um ano, a alavancagem caiu de 6,8x para 3x – e o CFO disse que esse número deve cair ainda mais nos próximos trimestres já que ainda não foi contabilizada a venda da sede, que levantou R$ 218 milhões.
Outra decisão do GPA é de colocar a operação de postos de gasolina na linha de “operação descontinuada” a partir deste trimestre. A varejista está em busca de um comprador para a operação, que conta com 71 postos e faturou R$ 356 milhões no primeiro tri.
Segundo Pimentel, apesar de ser uma operação rentável, não faz mais sentido mantê-la: todos os postos estão dentro de antigos hipermercados Extra, que foram vendidos para o Assaí. A meta é conseguir um comprador até o fim do ano.
“O papel dos postos de gasolina para o varejo alimentar é a atração de fluxo para as lojas. A operação em si não agrega grandes valores,” disse. Para completar, a venda ajudará no processo de desalavancagem.
Por isso, a empresa também destaca como ficariam seus números sem os postos: a margem bruta subiria para 27,2%, e a margem EBITDA chegaria a 8,1%.