O Grupo Pão de Açúcar fechou o terceiro tri com margem EBITDA de 7% – o quinto trimestre consecutivo de melhora e aquele em que a margem teve o maior aumento na comparação anual – refletindo os esforços de turnaround da companhia desde a posse do CEO Marcelo Pimentel há um ano e meio.

A receita bruta subiu quase 10% para R$ 5,1 bilhões, com um ‘same store sales’ de 6,6%. O crescimento veio principalmente da bandeira Pão de Açúcar, que teve um SSS de 7,2%, e da vertical de proximidade, que cresceu 25% em volume, em grande parte pela abertura de novas lojas.

10992 f465a18d 471d c48e cd64 64c705b654bbJá a margem da varejista teve uma “melhora exponencial,” o CEO disse ao Brazil Journal.

A margem bruta ultrapassou os 25% pela primeira vez desde o início de 2022, em 25,1%, e a margem EBITDA subiu 1,2 ponto, de 5,8% para 7%. O guidance da empresa é chegar a uma margem de EBITDA de entre 8% e 9% até o final de 2024. 

Segundo Pimentel, a melhora do EBITDA tem a ver com diversas ações que a empresa adotou este ano. “Começamos um projeto para reduzir em R$ 130 milhões as despesas da estrutura do escritório e fizemos, em parceria com a Falconi, um trabalho de orçamento base-zero que vai agregar outros R$ 230 mi de redução de despesas,” disse ele. “Também já começamos a colher frutos na margem bruta das melhores negociações com fornecedores e redução de estoque, que permite que a gente venda sem tanto desconto.”

Segundo o CEO, o GPA conseguiu reduzir seu estoque em 6 dias no ano passado e em mais 3 dias este ano. O objetivo é reduzir ainda mais, já neste quarto tri. 

Pimentel disse que o nível de ruptura nas lojas (a falta de produtos nas gôndolas) também teve uma melhora expressiva, com o GPA atingindo “números recordes de disponibilidade” de produtos na prateleira.

Mas o grande destaque do trimestre talvez seja o bottom line, que veio substancialmente acima do projetado pelos analistas em R$ 5 milhões positivos. O sellside projetava algo em torno de R$ 220 milhões de prejuízo.

O trimestre teve dois one-offs — um prejudicou o resultado; o outro, melhorou. 

Com o spinoff do Exito, o GPA teve que reconhecer nesse tri um ajuste cambial no valor da rede colombiana que ele carregava no balanço, o que teve um impacto negativo de R$ 1,4 bilhão no lucro líquido das operações descontinuadas. 

Por outro lado, a companhia reverteu as provisões negativas que tinha para a Cnova, dadas as conversas que vem tendo com o Casino para a venda do ativo e o entendimento da auditoria de que o GPA não teria responsabilidade fiscal e de aporte financeiro na empresa. 

Essa reversão gerou um impacto positivo de R$ 804 milhões no lucro das operações continuadas.

Excluindo esses dois efeitos não-recorrentes e não-caixa, o lucro líquido do GPA das atividades continuadas foi de R$ 5 milhões no trimestre, em comparação a um prejuízo de R$ 296 milhões um ano antes. 

O resultado vem num momento em que o GPA tem se esforçado para desalavancar seu balanço. Nos últimos meses, a companhia fez uma operação de sale-leaseback de 11 lojas, colocando R$ 330 milhões no caixa, e vendeu dois terrenos por mais R$ 300 milhões.

Mais recentemente, o GPA anunciou a venda do Exito para o Grupo Calleja, numa operação que vai injetar quase R$ 800 milhões no caixa.

Pimentel disse que vai usar 100% desses recursos para reduzir o endividamento da empresa, que fechou este trimestre em R$ 2,9 bi. A alavancagem caiu de 3x EBITDA um ano atrás para 2,5x agora – sem incluir os R$ 800 milhões, que ainda não entraram no caixa. 

O fluxo de caixa operacional saiu de uma queima de caixa de R$ 305 milhões no terceiro tri do ano passado para apenas R$ 9 milhões neste tri. Já o fluxo de caixa livre — que inclui o capex e a venda de ativos — saiu de R$ 624 milhões negativos para R$ 169 milhões positivos. 

A melhora teve a ver com uma redução do capex, a melhora no capital de giro e a melhora operacional, mas também com a venda dos ativos não-core que, neste tri, contribuíram com cerca de R$ 300 milhões. 

“Queremos mostrar ao mercado que o que está acontecendo é uma melhora estrutural do negócio, e em todas as partes: no lado operacional e também na estrutura de capital,” disse Pimentel.

Por enquanto, o mercado não está comprando a ideia. Desde o spinoff do Exito, a ação do GPA cai mais de 40%. Dos oitos analistas de grandes bancos que cobrem a empresa, sete têm recomendação ‘neutra’; e apenas um (o Bradesco BBI) tem ‘compra’.