Édouard Carmignac, o chairman da Carmignac Gestion, a maior gestora independente da Europa, está tirando a mão do manche na empresa que fundou. 

Carmignac está passando a gestão do principal fundo da companhia — o Patrimoine, com cerca de € 16 bilhões — para os co-gestores Rose Ouahba e David Older. No total, a Carmignac Gestion administra € 40 bilhões. 

10115 906ef265 ba1f 0000 0005 30faafa96a4eAo passar a gestão, Carmignac, de 71 anos, está dando seguimento à profissionalização de sua gestora, que começou em setembro, quando ele transferiu a gestão dos fundos internacionais para Older, um executivo que está na casa desde 2007.

Mas o movimento também acontece depois de vários anos em que os fundos da gestora têm performado aquém de seus retornos históricos.

Édouard fez seu nome na crise de 2008, quando apostou que haveria uma crise global e conseguiu que seus fundos não perdessem dinheiro, enquanto o benchmark despencou 12%.  Cerca de 80% dos ativos sob gestão da Carmignac vêm de clientes europeus, particularmente franceses e italianos.

Um bilionário ‘self-made’ — a família Carmignac é dona de 70% da gestora — Édouard fez sua fortuna em grande parte investindo em mercados emergentes, incluindo o Brasil. “Ele foi o primeiro a investir globalmente e distribuir os fundos na Europa,” um concorrente dele disse ao Financial Times recentemente.  “ Ele teve essa visão.”  

Brokers estimam que no pico de sua exposição ao País, Carmignac tinha mais de R$ 2,5 bilhões investidos no mercado brasileiro — incluindo uma posição histórica em ações do Grupo Pão de Açúcar que o fundo carrega.

Conhecido como um gestor de visões fortes sobre a Europa e a França, em 2011 Carmignac publicou uma carta aberta ao então chefe do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet.  Era a véspera da última reunião do ECB com Trichet na presidência, e Carmignac exortou o banqueiro a cortar os juros para zero e a comprar uma quantidade ilimitada de dívida soberana, como forma de salvar a Europa.

Com uma fortuna estimada em US$ 1,4 bilhão, Carmignac apoia e coleciona artistas contemporâneos por meio de sua Fondation Carmignac, que tem mais de 250 obras no acervo — incluindo os brasileiros Paulo Nimer Pjota e Janaina Mello Landini. No ano passado, ele inaugurou uma nova sede da fundação na ilha de Porquerolles, no sul da França. O novo espaço é uma espécie de Inhotim no mar Mediterrâneo.
 

Fontes próximas a Carmignac disseram que o fundador vai manter sua rotina e continuará indo ao escritório todos os dias.  Ele continuará como chief investment officer e membro do comitê de investimentos da empresa.  

 
Quem conhece o investidor diz que a mudança anunciada ontem lembra o ditado francês — “plus ça change, plus c’est la même chose.”