Gestores de fundos e debenturistas começaram a se organizar para entrar com ações contra a Americanas – e possivelmente a pwc, que auditou os balanços problemáticos da empresa.
O escritório Almeida Advogados já reuniu sete gestores que pretendem processar a empresa numa ação coletiva no Brasil. “Também estamos iniciando as conversas com investidores para uma class action nos Estados Unidos,” diz André Almeida, sócio do escritório.
O Almeida Advogados liderou uma class action contra a Petrobras nos Estados Unidos após as denúncias da Lava Jato. O processo terminou com o pagamento de US$ 3 bilhões aos detentores de ações da estatal na Bolsa de Nova York.
No caso dos debenturistas, uma primeira iniciativa está partindo dos agentes fiduciários responsáveis pelas debêntures da Americanas. “Estamos cobrando os agentes fiduciários porque queremos entrar com a ação de forma coletiva,” diz um gestor.
Há ainda um grupo de oito assets que investem nesses papéis e planeja entrar com uma ação coletiva. “A ação dos agentes fiduciárias pode ser muito morosa,” diz um gestor envolvido nas conversas.
A tarefa dos advogados é mostrar o que ninguém sabe por enquanto: reunir documentos para determinar como aconteceram as “inconsistências contábeis”, qual é o tamanho do rombo, determinar se houve fraude e buscar ressarcimento e multas. É um processo que pode levar anos, mas alguns investidores acham que vale a pena brigar,
“A empresa fez uma emissão de debêntures no fim de 2022, o investidor está revoltado,” diz um executivo de mercado. “Esses papéis já foram marcados a mercado, então o investidor já tomou o prejuízo e agora quer tentar reaver ao menos parte da perda.”
A Americanas emitiu duas debêntures no ano passado, uma em julho, com vencimento em 2033, e outra em outubro, com vencimento em 2027. O valor total foi de cerca de R$ 2,5 bilhões.
Os fundos que compraram essas debêntures já marcaram os títulos a mercado, alguns por 50% e outros por 25% do valor de face.
Há cerca de R$ 4 bilhões de debêntures da Americanas no mercado. Segundo um banco que mapeou o mercado, os principais detentores das debêntures são BB DTVM, Santander, Western Asset e XP.
As gestoras com fundos que tinham posição superior a 1% do patrimônio líquido em ações ou debêntures da Americanas na última sexta são: ARX, Augme, AZ Quest, JGP, Moat, Mongeral, Quasar, Sparta e Western Asset. Os dados são de uma grande corretora.
O fundo de ações da Moat foi o que teve a maior perda na quinta-feira, dia em que os papéis da Americanas desabaram. O fundo recuou 6,8%. O multimercado Moat Capital Long Biased Advisory perdeu 3,5% e o Equity Hedge, 1,3%.
A Augme – uma gestora especializada em crédito – tinha entre 2,6% e 3,1% de exposição a duplicatas de um fornecedor da Americanas, sacadas contra a Americanas em dois fundos, o 45 e o 180.
A gestora fechou os fundos para captação (os resgates continuam liberados) por dois motivos, segundo o sócio Marcelo Urbano: se o preço se recuperar, os atuais cotistas seriam diluídos e não capturaram todo o ganho; se houver nova queda, existe o risco de se tornar uma operação cara para quem entraria agora.
“Quando a operação foi feita, no fim do ano passado,o risco era muito baixo, mas deu no que deu”, diz Urbano.
A ARX tinha oito fundos com exposição a ações e debêntures da Americanas. As perdas variaram de 0,1% (no caso do ARX Denali, um DI) a 2,4%, no caso dos multimercado.
A Sparta, gestora especializada em renda fixa e crédito privado, tinha oito fundos de renda fixa e previdência investidos em debêntures da Americanas, todos participação superior a 1% do PL.
O Nu Reserva Imediata – um gigantesco fundo de baixo risco do Nubank, com 1,3 milhão de cotistas – também investia em debêntures da Americanas e perdeu dinheiro. Ainda não se sabe o tamanho do prejuízo porque a asset ainda não divulgou a cota. Em nota, o Nubank disse que o investimento foi “revisto”.
Mas houve também quem perdeu numa ponta e ganhou em outra. A AZ Quest tinha posições pequenas em debêntures da Americanas em dez fundos multimercado, de renda fixa e previdência. As perdas variaram entre 0,1% e 1,1% na cota de quinta-feira. Mas estava short em ações da Americanas no multimercado Total Return. Com isso, esse fundo teve um ganho de 2,4% no dia 12.