A Geru e a Rebel acabam de anunciar uma fusão que cria a maior fintech de crédito sem garantia do Brasil, aumentando o poder de fogo das duas e passando a atender debaixo da mesma tenda clientes com perfis diametralmente opostos.
Para operacionalizar o negócio, as empresas estão criando uma holding — a Open Co. — que ficará acima das duas marcas, que continuarão existindo como o canal de contato com o consumidor final.
Os atuais acionistas da Geru e da Rebel passarão a deter ações dessa holding.
Os principais acionistas da Geru são a Chromo, o family office de Jayme Sirotsky, e a Sampa Ventures, de Luigi Cosenza, o empreendedor que fez a BR Towers. Os principais acionistas da Rebel são a Monashees e a LTS, o veículo de investimentos de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.
A fusão vem num momento em que o ambiente regulatório está francamente favorável ao crescimento das fintechs, com inovações como o open banking e o PIX ampliando os mercados endereçáveis e reduzindo custos de transação para as startups.
Além disso, “a covid acelerou muito a digitalização dos consumidores ao mesmo tempo em que tornou o acesso ao capital mais restrito,” Sandro Reiss, o fundador da Geru, disse ao Brazil Journal.
Os dois negócios se complementam.
Enquanto a Geru é mais voltada para o cliente bancarizado e que já tem acesso a crédito — e o atrai com uma experiência mais prática, flexível e barata — a Rebel tem foco nas pessoas com credit scores menos esbeltos.
“Nossa estratégia é acessar os dados da conta bancária desses clientes para conseguir fazer uma avaliação de risco mais precisa e uma precificação justa,” diz Rafael Pereira, o fundador da Rebel. “Temos algoritmos que varrem essas informações para entender o comportamento financeiro de cada um e usar esses dados para traçar um perfil de renda.”
A fusão cria uma empresa com uma carteira de mais de R$ 800 milhões em empréstimos e um market share de 1,5% de todo o mercado brasileiro de crédito.
Segundo os fundadores, a expectativa para este ano é originar mais de R$ 1 bi em crédito, praticamente o que as duas empresas fizeram até agora em cinco anos de vida (R$ 1,5 bilhão).
Os empréstimos originados são securitizados e depois vendidos a investidores na forma de produtos estruturados: debêntures ou FIDCs. A Geru está em sua oitava securitização; a Rebel já fez duas.
As duas empresas ganham dinheiro de três formas: recebem uma comissão pela originação do crédito (paga pelo tomador); um fee de gestão da carteira (pago pelos investidores); e a rentabilidade dos empréstimos, já que elas compram as cotas subordinadas dos FIDCs e debêntures.
As fintechs de crédito sempre sofreram com o ceticismo do mercado em relação à sua capacidade de sobreviver a um stress de mercado, mas tanto a Geru quanto a Rebel conseguiram atravessar a covid sem grandes turbulências.
Segundo Sandro, a inadimplência ‘de primeiro pagamento’ chegou a aumentar mais de 25% no pico da pandemia na Geru, mas já está num patamar inferior ao de antes da crise.
“No final do primeiro trimestre de 2020 tivemos que reduzir bruscamente o apetite de risco, porque foi um momento de grande incerteza”, diz ele. “Mas agora estamos entregando alguns dos nossos melhores resultados históricos.”