A XP acredita que o acordo da Vivo com a Anatel para converter sua concessão de telefonia fixa para um regime de autorização deve gerar R$ 8,5 bilhões de net present value (NPV), o equivalente a 9% do market cap da companhia. 

Como parte do acordo, fechado em julho, a Vivo terá que investir R$ 4,5 bilhões ao longo dos próximos 10 anos, comprometendo-se a manter serviços essenciais de telefonia fixa num número limitado de cidades até 2028. 

Num relatório publicado agora à noite, o analista Bernardo Guttmann disse que a migração deve permitir o desligamento da rede legada, resultando em economias anuais estimadas de R$ 1 bilhão.

Além disso, Guttmann estima que a Vivo poderia levantar outros R$ 6,5 bilhões com a venda de ativos, desde sua rede de cobre até ativos imobiliários que ela tem dentro da concessão.

“Inicialmente a Anatel exigiu R$ 8,7 bilhões, mas a Vivo conseguiu negociar uma redução na arbitragem, encerrando todos os passivos relacionados à concessão (de cerca de R$ 1 bilhão),” diz a XP.

“A migração vai permitir que a Vivo desative uma grande parte de sua rede legada, servindo os clientes com sua rede de fibra que cobre 27 milhões de clientes residenciais, principalmente em São Paulo. Esse processo deve criar um valor substancial para a Vivo ao eliminar as obrigações regulatórias em áreas que davam prejuízo.”

A XP disse que é difícil estimar a relevância e extensão da rede que será descomissionada (e que a Vivo poderá vender).

“Mas podemos tirar insights da experiência da Oi. A Oi vendeu recentemente sua rede de cobre para o BTG por R$ 5 bilhões num acordo que eliminou alguns dos passivos da companhia,” diz a XP.

A XP assume que a rede da Vivo seja 30% do tamanho da Oi, o que daria um valor de cerca de R$ 1,5 bilhão. 

A Vivo também detém os ativos reversíveis da concessão, que deveriam ser devolvidos ao governo no final da concessão mas que provavelmente poderão ser incorporados pela companhia como parte da negociação. 

“Em 2023, a Anatel divulgou uma lista dos ativos reversíveis das concessionárias que incluía 1.700 propriedades da Vivo, incluindo torres e estações de energia. Ainda que o valor seja menor comparado ao da Oi, a localização dessas propriedades em São Paulo, onde o custo do metro quadrado é maior, deve gerar um valor significativo.”

A XP avalia esses ativos em R$ 5 bilhões. 

A Vivo terá ainda um ganho não-caixa por poder reverter provisões relacionadas à concessão. Segundo a XP, a operadora tinha provisionado R$ 1,85 bilhão no segundo tri, com boa parte disso (cerca de R$ 1 bi) sendo relacionado às disputas da concessão.

“Esse valor poderá ser eliminado e vai refletir positivamente no balanço da companhia. Isso deve aumentar a base de lucro e, consequentemente, os dividendos a serem distribuídos.”

Considerando todos esses ganhos, a XP chega no NPV pós-impostos de R$ 8,5 bilhões — o equivalente a R$ 5,15 por ação ou a 9% do market cap da Vivo.

“Esse valor é significativo e pode se traduzir em dividendos extraordinários.”

A Vivo fechou o dia valendo R$ 91 bilhões na Bolsa.