A Caixa Econômica Federal reportou um lucro líquido de R$ 14 bilhões em 2024, uma melhora substancial em relação ao resultado do ano anterior, mas com um ROE ainda bem abaixo de seus concorrentes.
O ROE da Caixa fechou o ano em 10,4%, um crescimento de quase 2 pontos percentuais em relação a 2023. Para efeito de comparação, o Itaú, Bradesco e Banco do Brasil tiveram um ROE de 22,7%, 13,4% e 20,8%.
Já o lucro da Caixa cresceu 32% na mesma base comparativa, com um aumento de 1,3% na margem financeira para R$ 61,6 bilhões, e de 7,8% na receita de prestação de serviços, que ficou em R$ 27,8 bilhões.
A expansão da margem financeira bruta (excluindo as provisões de risco de crédito) ficou abaixo do guidance que a empresa havia dado no início do ano passado, quando o banco disse que esperava crescer a margem financeira entre 3% e 7%.
O vp de finanças da Caixa, Marcos Brasiliano, disse que o não-atingimento do guidance teve a ver com dois fatores não-recorrentes: um ganho extraordinário que a Caixa teve com a recuperação de um crédito no final de 2023 (o que inflou a base comparativa), e uma perda relevante com outro ativo no final de 2024.
“Líquido dessas duas operações, o crescimento da margem estaria na banda superior do guidance,” disse o executivo.
As despesas administrativas subiram 5,6% no ano, um desempenho melhor que o guidance da companhia, que era de 7% a 11%.
Já a carteira de crédito da Caixa cresceu pouco mais de 10% para R$ 1,2 trilhão. Deste total, a vasta maioria está no crédito imobiliário (R$ 832 bilhões) — o coração do banco — que cresceu 13,5% ano contra ano, com a Caixa ganhando market share no segmento.
O CEO Carlos Vieira disse que a Caixa nunca vai ter um ROE igual ao de bancos como o Itaú e o Banco do Brasil, dado o papel que a companhia tem na sociedade.
“Se a Caixa for querer ter um ROE igual ao deles, vamos ter que fazer um processo diferente do que fazemos hoje,” disse ele. “Nosso ROE é satisfatório para o papel da Caixa, e cresce na medida da produtividade do banco. O stakeholder, detentor desses dividendos, é uma sociedade que precisa de um banco com um ROE no nível que temos.”
O CEO disse ainda que apesar do ROE abaixo do mercado, o resultado foi positivo em termos de crescimento, na comparação com o sistema financeiro. “Foi um crescimento expressivo, até chegando perto de alguns bancos privados,” disse ele.
Brasiliano, o vp de finanças, disse que uma forma de alavancar o resultado do banco seria aumentar sua tesouraria.
“Mas não faz sentido algum um banco público ter uma tesouraria tão relevante quanto sua carteira de crédito. Em alguns bancos privados, esse patamar é equivalente à carteira de crédito inteira. No nosso caso, a tesouraria é de uns R$ 200 bilhões e a carteira de crédito de R$ 1,2 trilhão,” disse ele. “Mas a Caixa tem um dever de casa para fazer, que é qual o tamanho do resultado, do lucro, que temos que ter para retroalimentar nosso capital. Então, há um interesse de crescer o ROE nesse sentido.”
O CFO disse que o funding da Caixa está sólido e diversificado, e que o custo caiu em 2024.
Dos R$ 1,7 trilhão de funding, R$ 503 bilhões vieram de empréstimos e repasses – quase tudo vindo do FGTS (R$ 480 bi). A poupança contribuiu com outros R$ 385 bilhões, um número que cresceu no ano apesar do mau momento do produto; R$ 287 bilhões vieram de depósitos a prazo; R$ 221 bilhões da emissão de letras, como LCIs; R$ 192 bilhões do mercado aberto; e R$ 52 bilhões de depósitos à vista.
Segundo Brasiliano, o custo de funding da Caixa caiu um pouco porque a Selic média caiu.
“Como temos um passivo mais pós-fixado, ele responde mais rápido a essas variações da taxa de juros,” disse o CFO. “Além disso, em 2024 tivemos uma captação líquida na poupança e o depósito a vista também cresceu.”
No quarto tri, a inadimplência do banco foi uma das mais baixas do mercado, ficando em 1,97%, em comparação aos 2,2% do final do ano anterior. A média do mercado foi de 3,17% no período.
A cobertura da provisão também melhorou, subindo para 204%, em comparação a 189% em março do ano passado. No ano, as provisões totais da Caixa caíram quase 9%, para R$ 17,1 bilhões.
“Nossa carteira cresceu acima de dois dígitos, mas nossa provisão não. Teve uma recuperação de crédito bem relevante e concentrada no quarto trimestre,” disse o CFO.
O índice de Basileia da Caixa ficou praticamente estável, passando de 16,7% para 16,6%. “Foi uma variação positiva, porque concedemos muito crédito e o nosso consumo de capital foi quase nulo,” disse Brasiliano.