Os últimos meses foram difíceis para Bento, um cão vira-lata que se perdeu de seus donos durante as enchentes do Rio Grande do Sul e, depois de resgatado, passou mais de 60 dias num abrigo em Canoas.

Bento

No abrigo, Bento aguardou o retorno de seus donos — que acabaram não aparecendo. 

Há uma semana, no entanto, o cãozinho conseguiu um novo lar: foi adotado pela psicóloga Cynthia Bezerra, que o conheceu numa feira de adoção no Shopping Leblon, no Rio. 

Cynthia disse que saiu de casa com o nome Bento na cabeça e que, quando o viu, foi amor à primeira vista. Bento estava magrinho e deprimido quando chegou na feira. Agora, está feliz da vida em sua nova casa em São Conrado.

A adoção de Bento só foi possível graças a uma enorme rede de solidariedade que começa no Grupo de Resposta a Animais em Desastre (GRAD).

O GRAD — uma ONG fundada 10 anos atrás para lidar com a tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais — chegou ao Rio Grande do Sul com seus voluntários em 1° de maio.

Carine Zanotto

A ONG resgata os animais — principalmente cachorros, mas também cavalos, porcos, galinhas e bezerros — e dá assistência nos abrigos, conseguindo, por exemplo, a castração e a esterilização dos animais com parceiros. (Além do Rio Grande do Sul, o GRAD também está atuando no Pantanal, salvando os animais da seca que assola a região.)

Outro elo fundamental na cadeia que levou à adoção de Bento foi a Arca Animal, um projeto criado durante as enchentes gaúchas pela programadora Carine Zanotto. 

Moradora de Santa Catarina, Carine começou a pensar em formas de ajudar no resgate dos animais — mesmo estando relativamente distante do local. Como trabalha com programação, resolveu reunir um grupo de pessoas para criar uma plataforma que cataloga os animais resgatados e ajuda na sua adoção. 

“Quando começamos, eram mais de 16 mil animais resgatados em 390 abrigos,” ela disse ao Brazil Journal. “Hoje esse número já caiu pela metade, porque parte deles reencontrou seus tutores, parte foi adotada e parte está em lares temporários.”

A plataforma da Arca Animal já possibilitou 120 adoções, com outras centenas de cachorrinhos sendo adotados em feiras de adoção, como a do shopping Leblon — uma iniciativa de outra voluntária, a carioca Patrícia Sallum.

Jornalista e dona de uma agência de PR, Patrícia se sensibilizou com o resgate dos cachorros no Rio Grande do Sul e também decidiu ajudar como podia. 

Elizabeth Domingos Faustino

Patrícia conseguiu a ajuda da Allos, a maior administradora de shoppings do Brasil, para organizar as feiras de adoção em seus malls

A primeira delas aconteceu no fim de semana passado — e foi um sucesso.

Dos 60 cachorros levados para o Rio (em aviões da FAB), 55 conseguiram um novo lar, e uma nova leva de 40 animais está chegando neste fim de semana para uma nova feira em outros shoppings da Allos – que já promoviam esses eventos de adoção todo mês.

“Tivemos o apoio dos cariocas de várias zonas do Rio — do Leblon à Penha,” disse Patrícia.

Além de Bento, outro cachorro que encontrou um novo lar foi o Coração, escolhido pela gari Elizabeth Domingos Faustino e por sua filha para fazer parte da família, que já conta com outros três cachorros — todos frutos de adoções. 

Elizabeth, moradora da Cidade de Deus, disse que foi sua filha que ficou sabendo da feira e pediu para ir lá, “apenas pra fazer carinho.”

“Eu falei pra ela que a gente ia sem compromisso. Mas essa história de ‘sem compromisso’…” Elizabeth disse rindo. “Ela ficou andando com um, com outro, até que o Coração se jogou em cima dela e foi de primeira: ‘É esse, é esse, não quero mais outro não.’”

Carine, da Arca Animal, sabe que nem todos os 8 mil cachorros conseguirão um novo lar, mas seu objetivo é fazer com que os que sobrarem possam ter um tratamento digno nos abrigos. “Hoje, com abrigos lotados com 600, 700 cachorros, não tem condições,” disse ela. 

“É muito difícil separar o sonho do que é viável, mas queremos conseguir adotar pelo menos mais uns 2.000 cachorros,” disse ela.