Será que agora vai?

A incerteza criada pelo Governo Trump tem feito muitos investidores repensarem sua alocação no mercado norte-americano – gerando uma percepção positiva de que mercados como Europa, Japão (e até o Brasil) podem herdar parte do espólio do ‘excepcionalismo americano’.

Pela primeira vez em quatro anos, aumentou o número de cotas em Bolsa do EWZ, o principal ETF de ações brasileiras, negociado na NYSE.

Foi um aumento marginal: o total de cotas ainda está no patamar mais baixo desde 2016, na crise do governo Dilma.

Mas mostra que a demanda por esse ETF cresceu, o que levou à compra das ações que compõem sua carteira.

“Há investidores olhando seletivamente para os mercados emergentes e escolhendo o Brasil,” disse Christian Keleti, sócio da gestora AlphaKey.

A América Latina foi menos afetada que outros emergentes (como a Ásia) pela alta das tarifas promovida pelo governo Trump – pelo menos até agora.

“Nesse contexto, o Brasil ganha relevância. Tem um mercado líquido e existe a opcionalidade da eleição de 2026: uma mudança de conjuntura pode mexer na curva de juros,” disse Keleti.

Além disso, depois de anos de investidores reduzindo as alocações no Brasil, as ações estão com múltiplos historicamente baixos.

Fernando Ferreira, o estrategista-chefe da XP, disse ter notado um “sentimento positivo” em relação ao Brasil num roadshow que fez semana passada em Londres, quando se reuniu com investidores dedicados à América Latina, mercados emergentes e globais.

Mas por enquanto, isso não se traduziu em maiores fluxos para a B3: em abril, a Bolsa teve uma saída líquida de quase R$ 5 bilhões.

Foi uma inversão de mão em relação ao que se viu no começo do ano, já que, de janeiro a março, o mercado local havia recebido R$ 11 bilhões.

“Atribuímos essa divergência — de sentimento positivo, mas fluxo negativo — a movimentos de fundos quantitativos e de fast money, além de realização de lucros após o aumento acentuado da volatilidade de mercado desde o anúncio de tarifas em 2 de abril”, Ferreira disse num relatório a clientes.