A Goldman Sachs Asset Management acaba de investir na fintech de crédito consignado MeuTudo — uma operação casada que envolve participação no equity e o compromisso de fornecer R$ 2,1 bilhões em funding para sete novos FIDCs.
As negociações começaram em janeiro do ano passado, e a Goldman passou os últimos oito meses fazendo diligência no negócio.
No início, a ideia era que a Goldman apenas desse o funding para as operações de crédito, mas o banco americano condicionou a transação a entrar também no capital da empresa.
“Eles disseram que não queriam cometer o mesmo erro que fizeram com o Nubank, quando eles deram o funding para as primeiras operações bem no comecinho da empresa, mas deixaram de participar de todo o crescimento que eles tiveram depois,” Marcio Feitoza, o fundador da MeuTudo, disse ao Brazil Journal.
Fundada em 2017, a MeuTudo começou como um marketplace que vendia crédito consignado de nove bancos diferentes, desintermediando a venda feita pelos ‘pastinhas’ — os autônomos que saem de porta em porta oferecendo o crédito.
Mas em setembro passado, a fintech migrou para o modelo atual — acabando com o marketplace e passando a oferecer apenas empréstimo próprio por meio de FIDCs.
Marcio está tentando ‘crack the code’ num mercado de margem apertada e disputado palmo a palmo por bancos como BMG, Pan e Bradesco.
Mas “a produção de um banco Pan e de um BMG é quase 100% pelos pastinhas. Eles têm medo de investir numa plataforma digital e gerar conflito com os pastinhas,” diz Marcio.
Uma complicação adicional: a MeuTudo é um negócio 100% online num mercado onde metade dos potenciais clientes são aposentados — não exatamente as pessoas mais versadas em tecnologia.
Marcio diz que a pandemia ajudou muito neste aspecto já que, preso em casa, o aposentado foi obrigado a se digitalizar. “Além disso, nossa UX é feita para até os velhinhos conseguirem fazer a operação.”
A MeuTudo já levantou um FIDC de R$ 400 milhões, que está praticamente todo investido.
Agora, a Goldman vai colocar R$ 300 milhões de imediato num novo FIDC. O banco ficará com as cotas subordinadas — a parcela de maior risco (e retorno) — que normalmente representam 30% do fundo.
O acordo prevê ainda outros seis FIDCs nos próximos oito meses: assim que a MeuTudo terminar de investir um, a Goldman aportará no seguinte — e assim por diante.
A MeuTudo nasceu da experiência de mais de uma década de Marcio no mercado de crédito consignado. Seu pai — que foi vp do BMC no final dos anos 80 — fundou uma financeira chamada Facility, que fazia a venda de empréstimos consignados para diversos bancos, e onde Márcio trabalhou por anos.
A Facility chegou a ter 250 lojas físicas para vender crédito, mas acabou sendo impactada pelo crescimento dos ‘pastinhas’ e pelo conflito de interesses intrínseco ao modelo de negócios.
“Os pastinhas cobram comissões muito altas, que podem chegar a 30%, e como estão de olho nesse comissionamento, eles não pensam necessariamente no melhor para o cliente. Tudo isso gera reclamações, desentendimentos e aumenta o custo do empréstimo,” diz ele.
Segundo o fundador, enquanto o mercado cobra uma taxa média de 1,8% ao mês nos empréstimos consignados, a MeuTudo está cobrando 1,2%.
Com os recursos da rodada, a fintech planeja acelerar o lançamento de novos produtos: um cartão de crédito vinculado ao salário, outras linhas de crédito consignado (hoje ela está apenas no INSS), e um produto novo que acaba de ser regulamentado pelo BC — o consignado vinculado ao FGTS.
Já os novos FIDCs vão permitir atender uma demanda que estava reprimida na plataforma por falta de recursos: a portabilidade. Em outras palavras, pessoas querendo trocar um crédito consignado caro por um… menos caro.
“Tenho mais de 200 mil clientes na fila para a portabilidade… no mês passado, liberamos a portabilidade para 4 mil pessoas e nossa produção de crédito já saltou de R$ 30 milhões para R$ 75 milhões,” diz Marcio.
A rodada foi acompanhada pela DOMO Invest — a gestora que tem como sócios Rodrigo Borges; Guga Stocco; e Márcio Zarzur — que investiu R$ 3 milhões em ‘seed money’ na MeuTudo em 2019.
A captação de hoje vai funcionar como ponte para um Series A previsto para o final do ano. Segundo Felipe Andrade, da DOMO, a MeuTudo já está em conversas com outros fundos e o plano é levantar entre US$ 30 milhões e US$ 50 milhões.