A 3G Capital zerou sua posição na Kraft Heinz, encerrando um período de nove anos em que a gestora de private equity fundada por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira foi um acionista de referência da companhia de alimentos.

A 3G vendeu os 16,1% que tinha na Kraft Heinz ao longo do quarto trimestre do ano passado, segundo informações da CNBC confirmadas pela companhia. 

“A 3G já não estava envolvida na gestão da Kraft Heinz e nem estava no conselho há anos,” a empresa disse num comunicado. “Ficamos sabendo por um filing recente que eles venderam toda sua posição na Kraft em 2023.”

A companhia disse ainda que a Berkshire Hathaway — que ajudou a arquitetar a fusão da Kraft com a Heinz em 2015 — continua com sua posição de 26,8% na companhia e se mantém como um acionista de longo prazo. 

A relação da 3G com a companhia começou em 2013, quando a gestora e a Berkshire se juntaram para fechar o capital da Heinz. Dois anos depois, fundiram a empresa com a Kraft Foods. 

No início, a companhia agradou o mercado, com as medidas de corte de custos da 3G gerando um crescimento robusto do bottom line. Com o tempo, no entanto, a Kraft Heinz começou a sofrer com as mudanças de hábitos dos consumidores, que passaram a priorizar comidas frescas e saudáveis em detrimento de alimentos industrializados (o foco da Kraft Heinz). 

A companhia chegou a tentar comprar a Unilever por US$ 143 bilhões em 2017, mas o controlador da empresa rejeitou a oferta.

Dois anos depois, a empresa entrou num inferno astral, divulgando num só trimestre um corte de dividendos, uma investigação da SEC sobre fraudes contábeis e um writedown de US$ 15 bilhões no valor de suas marcas. 

Meses depois, Buffett chegou a dizer à CNBC que a Berkshire e a 3G “pagaram caro” pela Kraft Heinz, acreditando que suas marcas valiam mais do que elas realmente valiam. 

Nos últimos anos, a companhia trocou de CEO diversas vezes e vem passando por um processo de turnaround, e a 3G foi gradativamente se afastando do dia a dia e das decisões estratégicas da companhia. 

Em 2021, Jorge Paulo saiu do conselho. Em 2022, Alexandre Behring, o outro sócio fundador da 3G, também deixou o board — e foi seguido por João Castro Neves, o ex-CEO da AB InBev e o último indicado pela 3G. 

Em 2019, a 3G já havia vendido 25 milhões de ações da Kraft Heinz e em 2022 ela distribuiu 7% da companhia aos investidores de um de seus fundos.