Numa decisão corajosa e rara para uma família controladora, a família Feffer decidiu acabar com as diferentes classes de ações da Cia. Suzano Papel e Celulose, dando direito de voto aos minoritários, levando a empresa para o Novo Mercado, e criando uma moeda que poderá ser usada em aquisições no momento em que o setor está embarcando em mais uma rodada de consolidação.
 
O conselho da Suzano aprovou hoje a conversão das ações PN da empresa (SUZB5) em ações votantes (SUZB3).  Mais importante ainda: os Feffer estão aceitando a conversão na razão de 1 para 1, sem cobrar um prêmio de controle aos minoritários, ao contrário de transações recentes.  Na migração da Vale para o Novo Mercado, os controladores pediram prêmio de 10%; na Klabin, de 15%; e na Alpargatas, a J&F pediu 30% (a operação fracassou).
 
Os termos da oferta indicam que os Feffer — que ainda controlarão a Suzano com 56,7% do capital — abriram mão de maximizar valor no curto prazo para construir uma relação de longo prazo com sua base de acionistas.  Em empresas que possuem duas classes de ações, os minoritários ficam em desvantagem de vários formas: os controladores podem vender a empresa e se apropriar do prêmio de controle, ou podem estruturar uma fusão em que as duas classes de ações entram por valores diferentes.
 
Ao passar a ter uma só classe de ações, a Suzano passa a ter uma moeda líquida que pode ser usada para comprar ou se fundir com outra empresa.
 
A transação acontece num momento em que os irmãos Joesley e Wesley Batista tentam vender sua Eldorado Celulose, o que deve levar o mercado a especular sobre as intenções da Suzano.  
 
Amanhã, a Suzano vai submeter a operação ao BNDES, que é acionista da companhia.  Em seguida, a proposta será submetida aos acionistas minoritários.
 
A Suzano vai discutir a transação numa teleconferência nesta terça-feira às 10:30 hs.
 
A ação da Suzano sempre negociou a um desconto em relação às duas empresas comparáveis na Bolsa — um gap que agora deve fechar rapidamente.

 
Até ontem, enquanto a Suzano negociava a cerca de 6x sua geração de caixa prevista para 2018, a Fibria Celulose negocia a 7,7x EBITDA e a Klabin, a 9,4x. 
 
Na estimativa de analistas do BTG Pactual, se o múltiplo da Suzano subir para 7,5x (e eles acreditam que até um múltiplo de 9x seja justificado, dado que a empresa tem um negócio de papel, mais valioso que o negócio de celulose), a ação subiria bem mais de 20%.  A Suzano PNB, a única ação líquida da empresa, fechou ontem a R$ 14,02.