A ação da Hypera chegou a cair quase 8% hoje depois de um resultado mais leve do que o mercado esperava.

A companhia entregou um crescimento fraco do sell-out no terceiro trimestre, de apenas 4,2% na comparação anual, perdendo market share. (O mercado farmacêutico cresceu 8,8% no período).

A desaceleração das vendas teve a ver principalmente com uma temporada de gripe mais fraca, com os casos da doença caindo cerca de 30% no trimestre. Como os medicamentos antigripais têm uma representatividade grande nas vendas nesse período (37%), o impacto na Hypera foi relevante.

Parte do problema é a base de comparação.

O terceiro tri do ano passado ainda foi marcado pelo retorno à vida normal no pós-covid, com os médicos prescrevendo uma cesta de remédios ao primeiro sinal de “atchim!”. Isso ajudou as vendas no ano passado, mas com a covid mais fraca este ano, esse efeito agora desapareceu.

O resultado só não foi pior porque a companhia conseguiu compensar essa retração com um aumento nas vendas de produtos de skincare e no mercado institucional — que ainda é pequeno na empresa, mas vem crescendo de forma rápida.

No trimestre, o mercado institucional contribuiu com uma receita de R$ 119 milhões. A estimativa da empresa é que essa vertical faça uma receita de R$ 400 milhões este ano, um número que pode chegar a R$ 1,4 bi nos próximos anos.

Na call com os analistas hoje, a companhia disse que cerca de 2 pontos percentuais de seu crescimento consolidado devem vir desse mercado nos próximos anos.

O CEO Breno de Oliveira também disse que no quarto tri e no primeiro trimestre do ano que vem, os antigripais não têm tanta representatividade nas vendas — tipicamente em torno de 20%. Para o quarto tri, a expectativa é de um crescimento em linha ou ligeiramente acima do mercado.

Segundo ele, a Hypera também não está entrando em briga de preços em produtos com margem baixa, o que poderia levar a margem negativa em alguns produtos. “Nosso foco é na rentabilidade e geração de caixa, e não em ganhar share por ganhar share,” disse.

Um analista disse que chamou a atenção o fato de que a Hypera não tentou turbinar seu sell-in para arredondar o trimestre, um expediente largamente utilizado pela gestão anterior – e que, apesar do trimestre mais fraco, a empresa continua com métricas operacionais e financeiras bem sólidas.

A Hypera fez uma receita de R$ 2,1 bilhões no trimestre, EBITDA de R$ 774 milhões e lucro líquido de R$ 470 milhões.

O resultado de hoje levou a companhia a reduzir em  5% seu guidance para receita, EBITDA e lucro do ano.

Com o corte, o Bradesco BBI deu um downgrade no papel, trocando a recomendação de ‘compra’ para ‘neutro’ e cortando o preço-alvo de R$ 51 pra R$ 44.

A ação negocia pouco acima de R$ 31.

Os analistas do Bradesco disseram que deram o downgrade depois de incorporar ao modelo o novo guidance, que implicou num EBITDA do quarto tri 17% abaixo das estimativas do banco.

“Como resultado, reduzimos nossa projeção para o lucro do ano que vem em 10% para R$ 1,9 bilhão, 12% abaixo do consenso,” escreveu o banco.

O próximo desafio da companhia será a possível revogação do juros sobre capital próprio, hoje a forma preferencial da empresa de distribuir seu lucro ao acionista, e que entra na DRE como uma despesa dedutível, reduzindo o imposto.

O curioso do resultado é que boa parte dos analistas que cobrem a empresa publicaram relatórios dizendo que o resultado veio fraco “como esperado.”

Pelo jeito, só faltou combinar com o próprio mercado, que amassou o papel desde a abertura, com um volume negociado mais de cinco vezes a média diária.