Para Raimundo Fagner, a música sempre foi uma extensão natural de si. “Ela surge a qualquer hora, sai muito fácil, está no sangue,” afirma o cantor cearense, conhecido por sucessos como Espumas ao Vento, Borbulhas de Amor, Revelação e Canteiros. Aos 75 anos, com meio século de carreira e 38 álbuns lançados – incluindo Além Desse Futuro, seu mais recente trabalho, de 2024 –, o artista reflete sobre as bases que moldaram sua trajetória de sucesso.

Além do talento, Fagner credita às parcerias a consolidação de sua carreira. “Sempre tive bons parceiros. Escolhi muito bem e essa diversidade construiu boa parte da minha história, que nasceu no Ceará e se espalhou pelo Brasil e pelo mundo,” conta o cantor neste episódio The Business of Life.

Filho de um cantor libanês, Fagner nasceu em Fortaleza, imerso em um ambiente musical único. Misturavam-se o lamento árabe do pai com a vivacidade das serestas nordestinas. Desde os 6 anos, já cantava em rádios, impressionando com seu dom precoce, apesar da oposição paterna, que desejava outra carreira para o filho. Tentou cursar arquitetura na Universidade de Brasília, mas logo abandonou: a música falou mais alto.

Em 1971, em Brasília, venceu o Festival de Música Jovem com a canção Mucuripe, parceria com Belchior. A partir daí, sua ascensão no mundo da música foi rápida. No ano seguinte, Elis Regina gravou a música, consagrando-o como compositor. Sua própria versão de Mucuripe integrou seu disco de estreia, Manera Fru Fru Manera – O Último Pau-de-Arara (1973), que também trouxe Canteiros, um de seus maiores clássicos.

Sobre Canteiros, Fagner lembra: “O Menescal, diretor artístico na época, disse que faltava uma música para o rádio. Peguei o violão e compus, inspirado no que estava ouvindo de Elton John e no poema de Cecília Meireles.” Foi rápido e espontâneo, como quase todo seu processo criativo, afirma. “A música sai a qualquer hora. Ou pego violão e sai, como na maioria das vezes. Fiz dois discos com Renato Teixeira assim, eu pego e começo a cantar.”

Hoje, olhando para sua trajetória, ele deixa seu conselho: “Se junte aos melhores parceiros que vai ser melhor para você. Sempre busquei os melhores músicos, porque num trabalho coletivo isso faz toda a diferença.” 

Apesar do sucesso que atravessa gerações, Fagner optou por uma vida discreta. “Sempre fui do mundo, mas me acostumei a ficar sozinho”, admite, embora valorize os laços próximos. “Amigos são a coisa mais importante da vida.”

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