NOVA YORK – Quem já fez compras (ou simplesmente caminhou) na faixa mais turística da Quinta Avenida conhece o drama: são 17 quadras entre o Central Park e o Bryant Park onde a disputa por espaço nas calçadas – entre seres humanos e sacolas – é exaustiva. 

Naquele trecho estão lojas de departamento como Bergdorf Goodman e Saks, a Apple Store, a Tiffany’s, o Rockefeller Center, a St. Patrick’s Cathedral e a New York Public Library – sem falar na Trump Tower. Tudo junto e misturado.

A Quinta Avenida corta Manhattan de cima para baixo, da rua 142, no Harlem, até a Washington Square na rua 8. Sua atividade comercial gera 313 mil empregos diretos e indiretos, somando US$ 44 bilhões em salários e um PIB anual de US$ 111 bilhões.

Agora, a Prefeitura resolveu colocar ordem no caos.

Em conjunto com as oito instituições que formam a Future of Fifth Partnership, a cidade acaba de divulgar um projeto urbanístico que visa transformar a Fifth entre a 59 e 42.

Ainda em fase de captação, esta será a primeira remodelagem da Quinta em seus 200 anos. A reforma deve começar em 2028 e, segundo a Prefeitura, se pagará em cinco anos com o aumento das receitas de impostos sobre propriedades e o comércio.

Hoje a avenida tem 30 metros de largura, com calçadas de sete metros e cinco faixas para carros e ônibus. Os pedestres representam 70% de todo o tráfego, mas as calçadas ocupam apenas 46% do espaço.

Para se ter uma ideia, em um dia normal circulam cerca de 5.500 pessoas por hora, por quarteirão. Nos feriados, o número sobe para 23 mil, competindo ainda com placas de sinalização, pontos de ônibus, postes e latas de lixo.

A obra pretende expandir as calçadas em 46%, estreitar os cruzamentos (incluindo rotatórias em seis deles), reduzir o número de faixas de tráfego de cinco para três – deixando uma só para ônibus – além de adicionar 231 árvores e mais iluminação.

Não há faixa para ciclistas, mas designers planejam adicioná-la na Sexta Avenida. (O projeto inclui ainda infraestrutura para evitar enchentes, um problema crescente na cidade.)

A reforma proposta se espelha no que foi feito em Paris ao longo da última década: os franceses eliminaram faixas de trânsito e estacionamentos em diversas regiões, especialmente em zonas escolares.

“Projetos centrados em pedestres tornam cidades de grande densidade demográfica mais viáveis,” diz Tamar Renaud, a diretora do Trust for Public Land, uma ONG que renova espaços públicos, lembrando que Nova York tem 8 milhões de habitantes e cerca de 65 milhões visitantes/ano.

“A redução da quantidade de carros diminui a poluição. Ao mesmo tempo, o aumento de área verde reduz os índices de estresse.”

O projeto de reforma da Quinta faz parte da “New” New York Panel, um plano criado pelo Prefeito Eric Adams e a Governadora Kathy Hochul para examinar o futuro da cidade sob o prisma da equidade e restaurar a economia no pós-covid.

“Estamos revertendo a tendência centenária de priorizar carros. O novo design transformará a superlotação da nossa avenida em um corredor espaçoso e verde,” disse Madelyn Wils, que preside a Fifth Avenue Association e o comitê da Future of Fifth.

A novidade se junta a outras iniciativas que já se provaram positivas, como as faixas de carros convertidas em espaços para pedestres no quarteirão ao norte da Union Square, e até mesmo em parte da Times Square.

Algumas destas mudanças incluem também a Open Street, uma iniciativa que surgiu como resposta à pandemia fechando algumas ruas para carros em prol dos pedestres nos finais de semana.

Entre elas está a Quinta Avenida do Brooklyn, apelidada de “The Other Fifth”, considerada pela Time Out “uma das 30 melhores ruas do mundo”.

Em 2022, uma pesquisa feita pela Prefeitura em conjunto com a Bloomberg Associates mostrou que, durante a pandemia, o crescimento das vendas nos quarteirões das “open streets” ultrapassou significativamente o comércio das demais ruas. E o fluxo de pedestres foi responsável pela manutenção e até a abertura de novos bares e restaurantes.