Num raro investimento da Warner Music numa startup brasileira, a gravadora americana está comprando uma participação minoritária no Sua Música — a distribuidora digital e plataforma de streaming conhecida como o ‘Spotify do Nordeste.’
O valor do investimento não foi revelado, mas a Warner disse que comprou menos de 50% do capital, mantendo os três sócios da startup — Roni Bin, Rodrigo Amar e Alan Trope — como controladores.
Numa entrevista ao Brazil Journal em 2021, quando a startup já estava buscando um investimento, Roni disse que o objetivo era captar R$ 50 milhões a um valuation de R$ 200 milhões (pre-money).
De lá para cá muita coisa mudou, e os valores provavelmente não são os mesmos — mas servem de referência.
“Eles são muito mais do que uma plataforma gratuita de música,” Leila Oliveira, a CEO da Warner Music no Brasil, disse ao Brazil Journal. “É uma plataforma de descoberta de novos talentos, principalmente no Nordeste, que não existe igual no Brasil.”
Segundo ela, este foi um dos fatores mais importantes que levaram ao investimento.
“Temos uma história muito grande de catálogos regionais – forró, samba, sertanejo – mas ficamos um tempo fora desse mercado. A Sua Música vai ser o nosso parceiro que está lá, que tem acesso aos artistas e o conhecimento desse mercado.”
Para Leila, a maior sinergia será poder trabalhar os artistas que o Sua Música descobre, disponibilizando a estrutura das duas empresas para eles e amplificando muito seu alcance.
Fundado na Paraíba em 2010, o Sua Música foi inventado por Éder Rocha Bezerra, que criou um site para agregar gravações de shows de forró de bandas emergentes da região.
Em 2013, Roni, Rodrigo e Allan compraram a empresa — quando ela não tinha sequer um CNPJ — e profissionalizaram o negócio, investindo em tecnologia para criar um streaming próprio e atrair mais artistas e usuários.
Em 2017, o Sua Música abriu sua distribuidora digital, começando a assinar contratos com artistas que estavam se destacando na plataforma e distribuindo suas músicas para outros canais.
Hoje são mais de 8 milhões de usuários únicos e milhares de artistas cadastrados na plataforma, e a distribuidora tem contratos assinados com cerca de mil artistas.
“Temos desde artistas começando a carreira até o Wesley Safadão e o Léo Santana,” disse Roni. “100% dos artistas do Nordeste usam a plataforma para divulgar suas músicas.”
Segundo ele, metade da receita da empresa vem da distribuidora e metade do streaming. Na vertical de streaming, um dos produtos mais rentáveis é o que eles chamam de branded content, pelo qual o Sua Música faz a transmissão de eventos com o apoio de marcas.
“Fomos pelo terceiro ano consecutivo a plataforma de streaming do São João de Campina Grande, por exemplo. Foram mais de 25 dias de shows, com vários shows por dia. É um evento enorme e um trabalho muito forte com as marcas.”
Com os recursos do investimento, o Sua Música vai iniciar uma expansão nacional e global, abrindo um hub de produção de conteúdo em São Paulo e, depois, entrando em países da América Latina. Hoje, a empresa tem um hub em Campina Grande e outro em Fortaleza.
Roni disse que a companhia está se estruturando como uma holding e que a ideia é ter várias marcas diferentes. Hoje, ela tem a plataforma de streaming, o Sua Música Digital (a distribuidora) e o Beat Studios (a empresa de produção musical criada em parceria com o produtor Ramon No Beat).
Para cada nova região em que entrar, a ideia é criar uma marca diferente ou adquirir uma que já seja forte por lá.
Segundo Roni, em São Paulo o foco será trabalhar com gêneros musicais como o gospel, trap, funk e sertanejo, “mas ainda estamos estudando os gêneros que vão fazer mais sentido,” disse ele.
O investimento na Sua Música é o primeiro da Warner Music numa empresa brasileira nos últimos dez anos.
A gravadora entrou no Brasil em 1984 e, nos primeiros anos da operação, chegou a fazer aquisições de alguns selos locais. Nos últimos anos, no entanto, cresceu apenas organicamente.
A companhia opera com três verticais no Brasil: a Warner Records, a gravadora; a ADA, a distribuidora; e a Chappel, que opera no mercado de direitos autorais de música.