O conglomerado Fosun International fez uma oferta para comprar a Guide Investimentos num ‘valuation’ de cerca de R$ 500 milhões, no que pode ser a primeira transação envolvendo uma corretora brasileira depois da venda da XP Investimentos para o Itaú Unibanco.
O grupo chinês está fazendo ‘due diligence’ na Guide, que pertence ao Banco Indusval, e a compra pode ser anunciada nos próximos dias.
A oferta da Fosun inclui a compra de uma participação majoritária; o restante seria comprado posteriormente, num valor ligado aos lucros da empresa.
A compra da Guide permitirá que o Indusval use os recursos para se capitalizar num momento em que o índice de Basiléia do banco cai a níveis preocupantes: ao fim do primeiro trimestre, estava em 10,9%, próximo ao mínimo exigido pelo Banco Central.
O Indusval tem hoje 96,1% da Guide, fatia que deve cair a 80% depois que todos os executivos exercerem suas opções. O restante está nas mãos da Simplific, gestora de patrimônio carioca comprada no ano passado, e do diretor Alexandre Atherino.
No médio prazo, a ideia da Fosun é integrar a Guide à Rio Bravo Investimentos, que a Fosun comprou há cerca de um ano.
O negociador da Fosun é Carlos Zanvettor, ex-CEO da Contax, que deve assumir uma posição de liderança na empresa que surgir da combinação da Guide com a Rio Bravo.
A Guide é a antiga Corretora Indusval, fundada em 1967, que passou por uma ampla repaginação em 2013, com investimentos em sistemas e foco em pessoas físicas de alta renda. Hoje, a Guide tem 40 mil clientes e R$ 11 bilhões em ativos sob custódia, de acordo com informações disponíveis em seu site.
Nos últimos anos, enquanto o Indusval sofre com prejuízos recorrentes – muito por conta da sua operação focada em crédito e títulos corporativos — a Guide tem crescido e recebido investimentos.
Em 2014, a Guide comprou a corretora mineira Geraldo Corrêa e, no ano seguinte, levou a carteira de pessoas físicas e a equipe da paulista SLW, além da Simplific.
Apesar das receitas crescentes, a operação ainda é deficitária. Em 2016, o faturamento cresceu 25% para R$ 12,8 milhões, e o prejuízo foi de R$ 4,6 milhões. O resultado operacional, no entanto, saiu do vermelho e foi para o azul, em R$ 3,1 milhões.
Se confirmado, o ‘valuation’ oferecido pela Fosun será a evidência mais recente de como a operação XP-Itaú reprecificou o mercado de instituições financeiras voltadas ao varejo, e confirmará o apetite para crescer no Brasil do empresário Guo Guangchang, que fundou a Fosun quando ainda estava na faculdade e hoje é conhecido como ‘o Warren Buffett da China’.
Será também um belo negócio para os acionistas do Indusval, incluindo Jair Ribeiro, um dos fundadores do antigo Banco Patrimônio e um veterano do mercado financeiro.
No início deste mês, a Coluna da Broadcast reportou que “os donos do Indusval têm a ideia de vender a plataforma [Guide] junto com o próprio banco, para o qual buscam um comprador há anos. No entanto, os potenciais interessados não reconhecem valor em uma aquisição agregada, dado o volume de problemas no banco.”
A evolução das conversas com a Fosun sugere que os controladores do Indusval resolveram monetizar o ativo para o qual existe demanda efetiva.
O Indusval está em processo de fechamento de capital desde o ano passado. Mas, no fim de junho, sinalizou que está prestes a vender ativos: pediu à CVM que adiasse o processo da oferta pública de aquisições de ações porque estava em “tratativas confidenciais de parcerias estratégicas”.
Segundo o fato relevante divulgado na época, essas negociações, “apesar de não envolverem o controle da companhia, poderão, caso sejam concretizadas, impactar a sua rentabilidade futura”. O banco disse que esperava ter uma conclusão sobre essa transação em 90 dias.
A Fosun não é o primeira empresa chinesa a olhar para os ativos do Indusval. Há cerca de um ano, a repórter Tatiana Bautzer, da Reuters, noticiou que o banco negociava sua venda para os chineses da Shanghai Pengxin.