A Eve — a fabricante de eVTOLs controlada pela Embraer — acaba de captar US$ 230 milhões em uma oferta direta liderada pela BNDESPar (US$ 75 milhões) e com participações da Embraer (US$ 20 milhões) e de fundos brasileiros e americanos.
A empresa emitiu 47.422.680 ações ordinárias ao preço de US$ 4,85, um desconto de 17% em relação ao preço de tela no fechamento de ontem, a US$ 5,86.
Para viabilizar a entrada da BNDESPar, a Eve — que é listada na NYSE desde 2022 — aprovou um programa de BDRs Nível I (restrito a investidores qualificados) na B3, sob o ticker EVEB31.
Cada BDR representará uma ação da Eve em NY, ao preço inicial de R$ 26,21.
“Essa captação nos dá um cash runway de três anos, o suficiente para alcançarmos a certificação [do eVTOL] e nos tornarmos uma empresa operacional,” Johann Bordais, o CEO da Eve, disse ao Brazil Journal.
Com o anúncio, a Eve ultrapassa a marca de US$ 1 bilhão em captações desde o seu IPO. Antes do aporte de hoje, o BNDES já havia aprovado US$ 225 milhões em linhas de crédito para a empresa.
Bradesco, Cantor Fitzgerald e Raymond James atuaram na colocação da oferta. O fechamento da operação está previsto para amanhã.
A Eve vale US$ 1,7 bilhão na Bolsa. A ação recua 15% nos últimos 30 dias, mas sobe 134% em um ano.
O CEO da Eve conversou com o Brazil Journal sobre a oferta e o momento operacional da empresa:
Qual é o objetivo da captação?
Captamos para avançarmos num processo de desenvolvimento de produto que é intensivo em capital e alcançarmos a certificação do nosso eVTOL em 2027.
Esses recursos vão financiar nossas operações e investimentos em industrialização e pesquisa e desenvolvimento, além de servir para a amortização da dívida da empresa e pagamentos de serviços realizados no Brasil.
Além disso, vamos ter um aumento na liquidez das nossas ações, o que é importante para atrair novos investidores. Esperamos alcançar um giro de US$ 10 milhões por dia, o dobro do que temos agora.
Como fica o caixa da Eve agora?
Essa captação de US$ 230 milhões vai nos dar um cash runway de aproximadamente três anos, o suficiente para alcançarmos a certificação [do eVTOL] e nos tornarmos uma empresa operacional. A partir disso, teremos outros meios de capitalização.
Agora, com US$ 600 milhões em caixa, teremos peace of mind para focar totalmente no desenvolvimento do produto e alcançar a certificação da ANAC.
Em que etapa está o desenvolvimento do eVTOL?
Já revelamos um protótipo de engenharia e ligamos nossos motores em feiras recentes e estamos fazendo uma série de testes em solo.
Também anunciamos que vamos testar uma outra tecnologia de motor produzida pela startup Beta Technology. Estamos em um momento oportuno para realizar esse tipo de testes porque, depois que entrarmos na fase de voos, fica mais difícil.
O primeiro voo para o protótipo de engenharia está previsto para o fim deste ano. Depois, durante o processo de certificação, vamos produzir os protótipos que terão a aparência do veículo final e serão avaliados pela ANAC — estes devem voar até o fim de 2026.
O que deve culminar na certificação em 2027.
Como a Eve se diferencia da concorrência?
A Embraer desenvolve e certifica veículos há mais de 50 anos, algo que nenhum dos outros fabricantes têm.
Nossos concorrentes parecem ter desenhado um veículo para poder fabricar o primeiro protótipo e depois do protótipo voar é que vão pensar como será o processo de certificação.
Na Embraer temos um processo de block building em que vamos testando cada bloco do projeto com o objetivo de alcançar a certificação o mais rapidamente possível.
Acredito que essa é uma vantagem competitiva muito grande.
Estão utilizando AI no desenvolvimento do eVTOL?
Sempre buscamos melhorar nossos processos, mas é preciso ser muito cuidadoso quando se trata de um projeto inovador como o nosso.
A Embraer utiliza um banco de dados interno com AI para melhorar processos de design, ganhar eficiência, refazer cálculos… mas com muito cuidado para evitar vazamentos.
A Eve já tem pedidos firmes de eVTOLs?
A Revo — subsidiária do OHI Group que presta serviço de mobilidade aérea urbana com helicópteros em São Paulo — encomendou 50 aeronaves, 10 firmes e 40 opções. Foi o nosso primeiro anúncio do tipo.
Mas a nossa carta de pedidos é a maior do mercado, com 2.800 pedidos de 29 clientes não só do Brasil e dos EUA, mas também da Austrália, Índia, Médio Oriente, Japão.
Qual é o preço de um eVTOL?
O list price é de US$ 5 milhões, em linha com a evolução do mercado e para poder entregar um produto seguro e certificado aos clientes neste início. Depois, com ganho de escala, vamos conseguir reduzir os preços.