A “Rússia fora da lei” de Vladimir Putin e a China de “Maximum Xi” encabeçam as ameaças para a estabilidade mundial, diz a Eurasia em seu relatório Top Risks 2023, publicado hoje.
No início de cada ano, a consultoria lista o que vê como os 10 maiores focos de riscos geopolíticos para a segurança global. Os responsáveis pela análise são Ian Bremmer, presidente da Eurasia, e Cliff Kupchan, o chairman.
Para os analistas, a Rússia tem poucas chances de vencer a guerra contra a Ucrânia. Mas poderá se tornar um pária perigoso, “um estado fora da lei, oferecendo sérios e permanentes riscos para a Europa, os EUA e todo o mundo”.
Putin manterá as ameaças veladas de uso do arsenal nuclear e deve ampliar o uso de “armas assimétricas”, como os ataques cibernéticos. Será um risco para a infraestrutura do Ocidente e para o fornecimento de alimentos.
O segundo grande risco para a segurança global está na centralização de poder promovida por Xi Jinping.
“Sem vozes dissonantes para desafiar suas opiniões, sua capacidade de cometer grandes erros com efeitos de longo prazo será enorme,” dizem os analistas. “Esse será um desafio global gigantesco, dado o peso da China na economia mundial.”
Outro risco listado pela Eurasia são as “armas de disrupção em massa”, as novas tecnologias de informação que dão aos populistas e autocratas um instrumento poderoso para manipular a opinião pública – e os avanços na inteligência artificial vão potencializar esse arsenal.
Será possível criar, a um baixo custo, exércitos de robôs programados para distribuir teorias conspiratórias e fake news, “alimentando a polarização, exacerbando o extremismo e a violência.”
Donald Trump, Jair Bolsonaro e Viktor Orbán deram exemplos recentes do poder das “câmaras de eco das redes sociais”. Agora, deverá haver uma disseminação dessas estratégias digitais, com a incorporação dos novos recursos e acessíveis a todos, “independentemente do espectro político”.
O Brasil aparece citado ainda em um segundo trecho do documento, em que os consultores analisam o impacto da alta das taxas de juros, particularmente sobre os países emergentes.
Segundo a Eurasia, a “pressão popular por políticas fiscalmente insustentáveis em um ambiente de aperto financeiro vai exacerbar os problemas de endividamento e podem desencadear instabilidade nos mercados – por exemplo, no Reino Unido, na Itália, no Brasil, na Colômbia e na Hungria”.
O “cenário de pesadelo” seria uma crise nos emergentes causada por uma “parada súbita” no fluxo de capitais, como as vistas nos anos 1980, em 1997 e 2008, com o colapso do apetite pelo risco e fuga de dólares para os EUA.
“Esse tipo de crise demora mais para acontecer do que o esperado… e então acontecem muito rapidamente,” afirmam os analistas, parafraseando um comentário do finado economista Rudiger Dornbusch (1942-2002), um grande pesquisador das turbulências financeiras internacionais.
A consultoria vê ainda como risco uma possível crise energética. O aumento nos preços dos combustíveis fósseis poderá amplificar as fricções dos EUA com os países da Opep, principalmente no segundo semestre do ano.
Outros riscos e prováveis focos de instabilidade listados são os conflitos internos no Irã, o retrocesso nos indicadores sociais ao redor do mundo e a polarização política nos EUA. Para a consultoria, o estresse hídrico e a disputa pela água serão desafios crescentes e não crises passageiras, como acreditam muitos governos.
A Eurasia apontou ainda como risco o “TikTok boom” – o impacto causado por pessoas da Geração Z, que já nasceram plugadas na internet e podem usar esse skill para defender transformações na política, na economia e nos negócios.
Os autores fazem a ressalva de que o relatório não pretende ser uma bola de cristal, com as previsões sendo um fim em si mesmas. Na verdade, o objetivo desse tipo de exercício analítico é evitar que as ameaças se tornem realidade.
“Em vários sentidos, Top Risks é sobre a arte do que não é possível,” afirmam Bremmer e Kupchan.