O setor de etanol terá uma segunda-feira de alta octanagem.
Os pré-candidatos à Presidência vão se encontrar com os empresários do setor no Top Etanol, o evento anual dos produtores de cana de açúcar.
Para a Presidente Dilma, vai ser um evento difícil. O congelamento de fato dos preços da gasolina nos últimos anos tirou a competitividade do etanol e quebrou dezenas de usinas, levando os empresários a chorar sobre o álcool derramado nos ombros de Aécio Neves e Eduardo Campos.
Já se vão cinco anos desde que o então presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, profetizou que “o etanol no Brasil vai ser o principal combustível, e a gasolina será o alternativo”.
De lá pra cá, o Governo segurou o preço da gasolina na bomba para controlar a inflação e manter sua popularidade em alta. Quem não gosta de gasolina barata?
Resultado: a Petrobrás viu seu balanço apodrecer e seu valor de mercado implodir, e os produtores de etanol, que viviam um bom momento graças à popularização do carro flex, começaram a sangrar. Nos últimos cinco anos, de acordo com a UNICA, a entidade que representa o setor, 43 usinas foram desativadas e outras 36 entraram em recuperação judicial. Mais: desde 2008, nenhuma decisão de instalação de nova usina foi tomada no País.
Além de congelar o preço na bomba, o Governo também acabou com a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, a famigerada Cide. Para os contribuintes, a Cide era um monstrengo, mas para os empresários do setor, servia pra dar competitividade ao etanol porque incidia apenas sobre a gasolina e o diesel.
O fim da Cide equivaleu a uma renúncia fiscal da ordem de R$ 24 bilhões nos anos fiscais de 2011 a 2013. Detalhe: os recursos da Cide eram compartilhados com Estados e municípios para financiar projetos de transporte coletivo.
A situação do etanol é tão complicada que os empresários recentemente convocaram Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura do Governo Lula, para ser o presidente do conselho deliberativo da UNICA. Ele próprio um plantador de cana, Rodrigues tem amplo trânsito em Brasília para passar o recado do setor a qualquer que seja o governo.
Com os preços manipulados — estima-se que no primeiro trimestre a defasagem da gasolina foi de 15% e do diesel, 17% — o governo tenta amenizar a situação fazendo “consertos” na margem.
Na semana passada, anunciou o aumento da mistura de biodiesel no diesel de 5% hoje para 6% em julho e 7% em novembro. O anúncio foi interpretado como um aceno do Governo ao agronegócio, onde vários empresários da soja tem se mostrado mais simpáticos à oposição.
Analistas do setor esperam, para breve, que o governo também aumente o etanol anidro na gasolina. A mistura, que hoje é de 25%, poderia ir para 27,5%, mas a indústria automobilística ainda está fazendo as contas para entender o efeito na performance dos motores.
Na verdade, o chamado “problema do etanol” não se restringe apenas ao setor. O populismo com os preços da energia está na interseção de várias distorções na economia brasileira — incluindo no setor elétrico, um capítulo à parte na capacidade do governo de reinventar a roda… para dar marcha à ré.
O economista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), projeta que, só este ano, a manutenção do represamento das tarifas de energia elétrica e dos preços da gasolina e do diesel totalizará 80,50 bilhões de reais. Para comparar, no ano passado o total gasto pelo governo em programas sociais, incluindo o Minha Casa, Minha Vida, foi de 63,2 bilhões de reais.