cc: Paulo Roberto Nunes Guedes

Walter Souza Braga Netto

Luiz Eduardo Ramos

Rodrigo Maia

Se o braço forte e a mão gentil do Governo brasileiro quiserem chegar rapidamente nos micro e pequenos empresários que a pandemia empurrou para o desespero, uma boa ideia pode ser injetar os recursos federais num fundo de alívio recém criado pela sociedade civil.

Trabalhando com agilidade e usando ferramentas de diversas empresas, em apenas três semanas um grupo de empresários desenhou e implementou o Estímulo 2020, um fundo que vai emprestar dinheiro a custo quase zero a micro e pequenos empresários.

“Se a sociedade civil não se mobilizar, nós vamos matar o empreendedorismo no Brasil,” Eduardo Mufarej, o idealizador da iniciativa, disse ao Brazil Journal. “Se tiver uma quebradeira geral a gente vai jogar fora uma geração inteira de empreendedores.”

10991 ac21c8b5 202b 0eb1 86aa e58a883eac7bQuase 20 empresários já se comprometeram a doar R$ 20 milhões ao fundo, que ontem assinou seu primeiro contrato: o dono de três centros de fisioterapia que, juntos, faturavam R$ 2 milhões por ano. (O empresário nunca havia tomado dívida na vida, e, como tantos outros, ainda assim foi nocauteado pela crise.)

Para chegar a quem precisa, o Estímulo 2020 usa a esteira de crédito da Biz Capital, uma fintech acostumada a emprestar para PMEs. Os dados de quem pede o empréstimo são validados pela Neoway, a empresa de big data. O processo é tão simples quanto lidar com uma fintech: o candidato aos recursos tem que preencher apenas seis campos de informação, incluindo seu CPF, CNPJ e faturamento mensal estimado.

Quando o crédito é aprovado, um banco faz o empréstimo, mas o título é imediatamente comprado pelo Estímulo 2020 usando os recursos das doações.

Como o dinheiro é limitado, o fundo criou alguns filtros: excluiu da lista de potenciais tomadores atividades como farmácias (que resistem bem à crise) e pornografia (que a essa altura do lockdown…)

As empresas candidatas também têm que faturar entre R$ 360 mil e R$ 2 milhões/ano e precisam existir há pelo menos três anos.

“Queremos ajudar o cara que estava rodando bem, que era um bom empreendedor mas que sofreu um tsunami,” diz Mufarej. 

O valor do empréstimo é igual a um mês de faturamento, e o tomador vai recebê-lo em três parcelas. (Usando os sistemas da Stone, que enxergam a movimentação de todas as maquininhas de cartão, o fundo vai acompanhar a performance do tomador e decidir se desembolsa as outras duas parcelas).

Mas o pagamento é de pai para filho: o empréstimo tem 3 meses de carência (depois que a última parcela é recebida) e corre a juros de 0,33% ao mês.

O Estímulo 2020 está começando só na Grande São Paulo, mas a ideia é que empresários de todo o País se organizem localmente e usem a plataforma para viabilizar empréstimos em suas cidades. “Basta a gente adicionar o CEP no sistema para tornar aquela nova região elegível,” diz Azor Barros, um ex-executivo do Warburg Pincus e da TPG que liderou a formatação do projeto.

Nos Estados Unidos, empresas e câmaras de comércio locais já criaram quase 500 ‘relief funds’ para ajudar pequenas empresas desde que o lockdown começou. Cada fundo tipicamente tem cerca de US$ 5 milhões.

No Brasil, o Estímulo 2020 é o primeiro fundo deste tipo, e, se Brasília quiser, pode se tornar um canal eficiente para irrigar a economia de serviços, o grande canal que distribui as cervejas, bolachas (e biscoitos) produzidos pelas grandes empresas.

A recuperação desta malha de empreendedores é vital para o Brasil sair da pandemia sem mais desemprego, mais desolação. 

Calma que tem mais: além da ajuda monetária, o Estímulo 2020 vai oferecer a todos os empreendedores que se cadastrarem na plataforma um pacote de treinamento e requalificação desenhado pelo Ibmec. As aulas online, que vão focar na educação financeira, incluirão palestras de alguns dos empresários que doaram à iniciativa (veja a lista abaixo)

Todas as empresas também terão acesso gratuito à plataforma da VTEX que permite ao empreendedor criar sua loja virtual; a Omie está dando acesso a seu sistema de gestão por seis meses. 

Alguns empresários que já doaram, e aos quais você pode se unir:

Abilio Diniz
André Street 
Andre Szajman
Azor Barros
Carlos Fonseca
Claudio Szajman
Daniel Castanho
Daniel Goldberg
Igor Senra
Jean-Marc Etlin
Marina Feffer
Pedro Faria
Renata Goldfarb
Roberto Lombardi
Thomaz Pacheco
Vasco Oliveira
Zeca Magalhães