O Ibovespa sobe 29% no ano em reais e quase 50% em dólares – diante de investidores locais incrédulos.
O índice chegou a emendar 12 dias consecutivos de alta até a última quinta-feira – a sequência mais longa desde junho de 1997.
Mas o que mais se ouve no mercado é que, considerando os inúmeros problemas do País, a valorização não faz sentido.
“Este é o bull market menos comemorado que já vi,” João Braga, o fundador da Encore, disse ao Brazil Journal.
A alta foi puxada por um fluxo de investimentos externos – modesto, de cerca de R$ 20 bilhões no ano, mas suficiente para fazer a Bolsa subir num momento em que a liquidez do mercado local diminuiu e a exposição a ações brasileiras é a menor em anos.
“Não tem nada a ver com Lula, Tarcísio ou juro. É fluxo global,” disse Braga.
Boa parte desses recursos vem de fundos quantitativos e macro, e não de investidores dedicados a países emergentes, disse Fernando Ferreira, o estrategista-chefe da XP. “É um trade global.”
O Brasil não é o único mercado que tem se beneficiado disso. Na América Latina, as bolsas do Chile e do México sobem cerca de 45% em dólares neste ano; as da Colômbia e do Peru, 60%.
Agora, os gestores se dividem entre os que veem fôlego para novas altas – independentemente do resultado da eleição – e os que enxergam um risco-retorno melhor em outros mercados.
André Bannwart, do UBS, está no segundo grupo. Head da família de fundos UBS Evolution, que soma R$ 24 bilhões de AUM dividido em diferentes estratégias, ele está otimista com ações – mas não aqui.
Para ele, a combinação entre juros em queda na maioria dos países, política fiscal ainda expansionista e crescimento global ‘ok’ é positiva para as bolsas.
Mas os maiores retornos, acredita, estão em mercados onde a tecnologia e a inteligência artificial estão transformando empresas – caso dos Estados Unidos e da Ásia.
“O Brasil oferece um retorno de commodity, não tem um diferencial, e vai só seguir a onda até as eleições,” disse Bannwart.
Para quem vê mais espaço para ganhos na Bolsa brasileira, os preços ainda não refletem a tendência de queda de juros a partir de 2026 nem os bons resultados das empresas.
Para Braga, mesmo o trade eleição está mal precificado. Segundo ele, o mercado dá como certo que Lula será candidato e atribui uma chance de vitória de 60% a ele.
“Se os investidores colocarem na conta a possibilidade de ele não se candidatar e também uma probabilidade de vitória de 50%, além do corte dos juros, dos fundamentos da empresas e do fato de a Bolsa estar barata, as ações ainda podem subir muito.”






