Ao longo da última década, André Esteves apontou seu Global 7500 rumo a Riad e fez uma peregrinação quase anual a um país que ainda tem muito pouca exposição ao Brasil: a Arábia Saudita.
Particularmente nos últimos quatro anos, Esteves e seus sócios se encontraram frequentemente com funcionários do reino, o príncipe Mohammad bin Salman (MBS) e outros sheiks, mapeando o terreno para a entrada do BTG na região.
Agora, este investimento pode começar a se pagar.
Uma missão da Arábia Saudita que vem ao Brasil na próxima semana tem tudo para ser o momento mais promissor para o comércio e o investimento bilaterais desde que os dois países estabeleceram relações diplomáticas em 1968.
O Ministro do Investimento Khalid Al-Falih — um veterano que já foi chairman e CEO da Saudi Aramco – vai liderar a delegação.
A vinda de Al-Falih – um dos mais fortes ministros do reino – deixa para trás o episódio recente em que o Presidente Lula cancelou um jantar em Paris com MBS, o príncipe herdeiro e primeiro-ministro do reino, hoje com 37 anos e o motor por trás da transformação radical da economia e dos costumes na Arábia Saudita.
“Nunca houve nada parecido: são 190 pessoas de 80 empresas se dirigindo a São Paulo para participar de vários eventos,” o embaixador do Brasil em Riad, Sérgio Bath, disse ao Brazil Journal.
A importância do Brasil para os sauditas tem a ver com nosso papel na segurança alimentar do reino, que importa 80% de tudo que come. O Brasil tem um share de 10% nestas importações, seguido pela Índia com 9%.
A oportunidade de aumentar o investimento e o comércio é imensa. A Arábia Saudita tem muito menos capital investido no Brasil do que os Emirados Árabes, que têm (apenas) US$ 10 bilhões no País entre investimentos diretos e de portfólio.
A Saudi Agricultural and Livestock Investment Company (Salic) – o braço para o agronegócio do PIF, o fundo soberano do país – é dona de 34% da Minerva e este mês comprou 10,7% da BRF. E o próprio PIF deve comprar uma participação minoritária no negócio de metais básicos da Vale, uma transação na iminência de ser anunciada.
Agora, segundo pessoas a par do assunto, a Salic está analisando oportunidades para investir em grãos no Brasil dentro da lógica de garantir a segurança alimentar do reino – uma vulnerabilidade ressaltada pela guerra na Ucrânia, que interrompeu exportações de grãos.
Mas a Arábia Saudita também quer reciprocidade.
Dentro do Visão 2030 – seu plano para reduzir a dependência do petróleo e diversificar a economia – MBS quer atrair investimentos, e algumas empresas brasileiras de grande porte estão estudando o mercado, incluindo a Seara e laboratórios farmacêuticos.
Os incentivos vão desde a isenção de impostos por oito anos até ter o PIF como investidor em JVs para operar na região.
Mas neste negócio de atração de investimentos, o ‘meet and greet’ só não é mais importante do que saber “fechar”.
Quando o Presidente Jair Bolsonaro visitou Riad em outubro de 2019, os sauditas prometeram até US$ 10 bi em investimentos do PIF – mas nada aconteceu. (O valor consta do planejamento estratégico do PIF, mas Brasília não conseguiu se articular para conseguir.)
“Houve um problema conceitual ali: o governo brasileiro estava muito focado em PPPs em infraestrutura, mas o PIF não tem vocação pra isso. Eles deveriam pensar em investimentos em fertilizantes, no agronegócio,” diz um brasileiro em Riad que entende a lógica saudita.
Se uma fração deste potencial se concretizar, o BTG parece ser o banco mais bem posicionado para capturar a oportunidade saudita.
O banco já administra há quase 10 anos dinheiro de instituições sauditas como a SAMA (a autoridade monetária do reino) e o PIF, bem como recursos dos fundos soberanos do Kuwait, Abu Dhabi e Catar.
Agora, acaba de abrir um escritório em Riad que vai focar em originar M&As cross-border e fazer a gestão de recursos institucionais.
Para comandar o escritório – que deve se tornar um hub para negócios no Oriente Médio – o BTG contratou Sultan Olayan, membro de uma das famílias mais ricas da Arábia Saudita.
A relação do BTG com o governo se estreitou depois que MBS convidou Larry Fink (o CEO da BlackRock), Noel Quinn (do HSBC) e Esteves para falarem na abertura do Middle East Green Initiative há dois anos.
O banqueiro também jantou com MBS e cerca de 20 empresários globais no Future Investment Initiative (FII) – o evento mais conhecido como ‘Davos no Deserto’ – em 2021 e 2022.
Segundo uma pessoa próxima ao banqueiro, Esteves se aproximou do Ministro Al-Falih nestes eventos e fez a ponte entre ele e o Ministro Fernando Haddad no fórum de Davos deste ano.
Na segunda-feira, Al-Falih vai jantar na casa do embaixador árabe no Brasil. No dia seguinte, Esteves fará um jantar em sua casa em homenagem ao ministro, convidando empresários como Rubens Ometto, da Cosan; Rubens Menin, da MRV; e Marcos Molina, da Marfrig.
A agenda da comitiva está sendo organizada pela Sete Partners, de André Skaf. Bancos como Credit Suisse e XP também estão convidando clientes para reuniões com a missão saudita.