9809 82bcdf43 1035 0000 0005 c2e330684c87A Equatorial Energia fez uma proposta à Cemig para comprar o controle da Light, a distribuidora de energia que atende à região metropolitana do Rio de Janeiro.

A Cemig ainda não respondeu.

A Enel, companhia italiana que controla a Ampla Energia, cuja área de concessão inclui o resto do Estado do Rio, também está analisando fazer uma proposta pela Light, dadas as óbvias sinergias de uma fusão.

É fácil entender por que a Equatorial — conhecida pelo ‘turnaround‘ da Cia. Energética do Maranhão (Cemar) — vê oportunidades de gerar eficiência na Light, uma empresa que, em sua história recente, nunca esteve de fato em mãos privadas.  Quando finalmente saiu das mãos do Governo Federal há exatos 20 anos, a Light foi vendida para um consórcio liderado pela Electricité de France (EdF), uma estatal não exatamente conhecida por sua eficiência.

Depois, passou para o controle da Cemig, a estatal mineira. 

Na mão da Equatorial, a Light certamente seria submetida à rotina de corte agressivo de custos e prevenção de perdas que marcaram o turnaround operacional da Cemar.  A Equatorial também já é dona de outra distribuidora, a Celpa, do Pará, onde tem melhorado dramaticamente os indicadores operacionais, e é vista como compradora potencial da Celg, de Goiás, que será vendida pela Eletrobras no mês que vem.  A atual presidente da Light, Ana Veloso, foi diretora estatutária da Equatorial Energia de 2008 até novembro do ano passado, além de ter trabalhado área de mercados de capitais do BNDES de 1992 a 2006.
Com um endividamento pesado e mais da metade de suas perdas de energia localizadas em comunidades dominadas pelo tráfico (onde a empresa tem dificuldade em entrar), a Light está numa situação pouco confortável.

No fim de março, a empresa tinha R$6,3 bilhões em dívida líquida, o equivalente a 4,24x sua geração de caixa anual.  Esta dívida corre a uma taxa média de 14,5% ao ano; há dois anos, o custo anual era de 11,3% ao ano. A Light tem vencimentos gigantescos nos próximos três anos:  R$1,2 bilhão este ano, R$ 1,2 bilhão em 2017 e R$1,4 bilhão em 2018.

A situação da Cemig não é muito melhor, o que obriga a empresa a ter que vender ativos.

Semana passada, a Fitch Ratings rebaixou a nota de crédito da Cemig e disse que a empresa terá que fazer desinvestimentos “em volumes significativos” para reduzir sua dívida.

A Fitch estima que a dívida líquida da Cemig — hoje ao redor de 3x sua geração de caixa — vai aumentar para uma faixa entre 4 e 5 vezes nos próximos três anos, “em decorrência do término de importantes concessões de geração até 2017, do impacto do negativo cenário macroeconômico sobre o segmento de distribuição e das novas dívidas contraídas para financiar seu plano de investimentos.”

 
Esta projeção, no entanto, não inclui R$6,2 bilhões em garantias que a Cemig deu a empresas que ela não controla mas nas quais é acionista, como as usinas de Santo Antonio e Belo Monte.  (Se este número for colocado na conta, como deve ser, a alavancagem nos próximos três anos ultrapassará 5x.)

“Ainda que o grupo tenha satisfatório acesso à captação de recursos nos mercados bancário e de capitais, mesmo em cenários de crédito mais desafiadores, e que já tenha rolado parte da dívida de curto prazo reportada ao final de março de 2016, a [Fitch] avalia negativamente o perfil de dívida da Cemig.”

Cerca de 74% da dívida da Cemig vencem até 2018 — um total de R$ 11,2 bilhões.

 
Nas últimas semanas, o mercado começou a especular que a Equatorial poderia focar na compra de duas distribuidoras hoje nas mãos da Eletrobras: a Amazonas Energia e a Boa Vista Energia, que fazem parte do chamado ‘Sistema Isolado’ por não estarem conectadas ao grid de transmissão que atende ao resto do País. Na sexta-feira, uma assembleia de acionistas da Eletrobras deve iniciar o processo de venda destas empresas, que deve acontecer até o final de 2017.
 
A MP 735, em tramitação no Congresso, dá ao comprador das distribuidoras localizadas no Norte e Nordeste (incluindo estas duas) um novo contrato de concessão de 30 anos, em vez de impor um contrato já em andamento.
 
Além disso, a lei 13.299, sancionada já no Governo Temer, dá ao comprador mais flexibilidade para atender as metas de qualidade impostas pela ANEEL, aumentando os incentivos para a Equatorial, que tem experiência no assunto.