A Circle Internet, uma das precursoras na emissão de criptomoedas, estreou hoje na NYSE depois de quatro anos de tentativas frustradas de abrir o capital – e desta vez, os investidores abraçaram a história, com o papel chegando a subir 235% no primeiro dia de negociação.
A startup americana é uma emissora de stablecoins – as criptomoedas que seguem uma cotação fixa de 1 para 1 em relação a uma moeda de referência, como o dólar, por exemplo, no caso da Circle e da Tether.
A Circle esperava sair numa faixa de preço entre US$ 27 e US$ 28 por ação, mas conseguiu precificar seu papel em US$ 31, com a empresa sendo avaliada em US$ 6,9 bilhões.
Mas logo na abertura, a ação disparou para US$ 69,50 e chegou a bater em US$ 104. Ao final da sessão, ficou em US$ 83 – uma alta de 168% no dia e colocando o market cap em US$ 17 bi.
É o maior IPO de cripto desde a listagem da Coinbase em 2021.
A transação bem-sucedida e com sólida demanda demonstra que diminui a preocupação com relação aos riscos regulatórios. Com Donald Trump – um entusiasta e especulador dos cripto ativos – ficou no passado o cerco às moedas digitais promovido pelo Governo Biden.
A Circle é a segunda maior stablecoin denominada em dólares, com US$ 61,5 bilhões de tokens em circulação, atrás da Tether, com US$ 153,4 bilhões. As duas são, de longe, as líderes neste segmento.
As moedas digitais “estáveis” têm como lastro reservas em cash e em títulos públicos de baixíssimo risco, como os Treasuries. São esses ativos que asseguram a conversibilidade.
Mas esse é ainda um mercado sem regulação específica, e seu funcionamento se escora inteiramente na credibilidade do emissor.
O Congresso dos EUA poderá em breve aprovar uma legislação para regulamentar o uso dos tokens, o que deve ampliar o leque de operações em que elas possam ser utilizadas.
As stablecoins oferecem as vantagens de uma moeda digital – como registro no blockchain, transferências digitais e contratos inteligentes – mas sem a volatilidade de tokens como Bitcoin e Ethereum.
A Circle surgiu em 2013 em Boston, inicialmente como uma startup de crypto wallet e exchange. Sua stablecoin foi emitida pela primeira vez em 2018, inicialmente em uma parceria com a Coinbase.
“Há 12 anos, fundamos uma empresa que pudesse contribuir na reconstrução do sistema econômico mundial a partir da internet,” disse Jeremy Allaire, o CEO e cofundador da Circle.
Segundo Allaire, sua missão desde o início foi criar um sistema de transferência de valores que funcione sem fricção e contribua para “aumentar a prosperidade econômica global.”
A Circle faturou US$ 1,7 bi no ano passado. Ela faz dinheiro com os rendimentos dos Treasuries e de outros ativos de baixo risco que ela adquire com os recursos obtidos com a venda de suas tokens. A sua principal distribuidora é a Coinbase.
O mercado das criptos estáveis fica a cada dia mais disputado – e até a família Trump entrou nesse negócio.
A World Liberty, dos Trump, emitiu a stablecoin USD1 e atraiu investimento da MGX, fundo de Abu Dhabi.