Em 2016, Flávia Abubakir criou um grupo no Whatsapp chamado iTips Solidário — para reunir voluntários e apoiar obras sociais da Igreja da Vitória, uma paróquia em Salvador perto de sua casa.
A ideia era ajudar a Escola Municipal Paroquial, com ações para melhorar o ensino e reduzir a evasão dos mais de 200 alunos que frequentam a unidade.
“Tentamos fazer da escola um momento bom para os alunos. Eu comecei pegando tudo que acontecia na escola da minha filha, como festinhas e eventos temáticos, e replicando lá para eles,” Flávia disse ao Brazil Journal.
O projeto deu tão certo que Flávia decidiu escalar a filantropia.
Junto com seu marido — Frank Geyer Abubakir, o controlador da Unipar — Flávia criou há dois anos um instituto que atua em dois grandes eixos temáticos.
O primeiro são as ações sociais e culturais. Além de ajudar a escola paroquial, o Instituto fornece recursos para a Igreja ajudar os moradores de rua e as comunidades carentes do entorno, além de financiar o PSIU, um projeto de assistência psicológica para alunos da Universidade Federal da Bahia.
Outro projeto financiado pelo Instituto é o Cine Glauber Rocha, que usa os recursos para dar ingressos mais acessíveis para a população e para realizar um festival anual de cinema.
“Eu queria fazer algo que realmente tivesse impacto, e com o Padre Luís Simões, que é muito meu amigo, eu consigo cobrar e ver exatamente o que está sendo feito,” disse ela.
Segundo Frank, o Instituto é a sistematização de algo que Flávia já fazia há muitos anos “de forma mais dispersa e pontual, e um compromisso nosso de que queremos e podemos fazer mais.”
O empresário cita Baltasar Gracián, um pensador espanhol do século 16 que dizia que “o que justifica ter mais é fazer mais o bem.”
Para Frank, o conceito por trás do Instituto é “cuidar do que te toca, da sua rua, das comunidades carentes do seu entorno, e das escolas próximas a você.”
O segundo eixo do Instituto é a conservação e a ampliação do acervo de arte, objetos e livros históricos pertencentes à família, e que foi sendo construído por Frank e Flávia desde que o casal tinha 20 e poucos anos. Os Abubakir já têm mais de 50 mil itens em seu acervo, e são donos da maior coleção de iconografia baiana que retrata a história de Salvador desde o século 16 até 19.
Mais recentemente, começaram a montar também um acervo de memória africana e indígena, com fotos, cartas e outros documentos históricos.
O acervo está guardado em armários volantes dentro de um prédio em Salvador, mas para tornar o material acessível a todos, Frank decidiu digitalizar boa parte do material e disponibilizar as cópias digitais no site do Instituto.
“Hoje já temos mais de 15 mil itens digitalizados, com livros únicos, primeiras edições, coisas que ninguém tem da nossa memória baiana,” disse ele.
O acervo do Instituto é avaliado hoje em R$ 120 milhões e inclui obras como telas, aquarelas e desenhos de artistas como o francês Debret, o alemão Rugendas e o italiano Righini. Há ainda obras que retratam momentos definidores ou curiosos da história da Bahia, como a primeira representação de Salvador, feita pelos holandeses em 1624.
Os recursos do Instituto vêm de um percentual dos dividendos que a Vila Velha, a holding da família Abubakir, recebe da Unipar, e o Instituto não conta com nenhum incentivo fiscal. Hoje, a Vila Velha tem 58% das ONs da petroquímica.