Era uma vez uma empreiteira que precisava de dinheiro por causa da Lava Jato: vendeu a Alpargatas.
Era uma vez um frigorífico que precisa de dinheiro por causa da Lava Jato: vai vender a Alpargatas.
As histórias de poder desmesurado e debacle fulminante da Camargo Corrêa e da família Batista ficaram ainda mais semelhantes agora à noite: a J&F Investimentos, holding dos irmãos da JBS, acaba de anunciar que desistiu de levar a Alpargatas para o Novo Mercado.
A mudança de planos veio no mesmo dia em que a Reuters noticiou que a JBS e a família Batista contrataram o Bradesco para vender ativos e levantar liquidez. A empresa negocia o pagamento de uma multa de R$ 11 bilhões como parte de um acordo de leniência.
Ao desistir do Novo Mercado e manter a estrutura acionária atual, dividida entre ações votantes e não-votantes, os controladores conseguem capturar o prêmio de controle numa eventual venda da empresa.
“A Alpargatas é a empresa mais redonda e não tem os problemas de compliance dos outros ativos do grupo”, diz um gestor.
Em fato relevante divulgado há pouco, a Alpargatas justificou a desistência “tendo em vista a manifestação contrária, feita por acionistas minoritários titulares de participação relevante no capital social não votante da companhia em interações mantidas com representantes da companhia”.
Além da desistência da operação, a fabricante das Havaianas anunciou também a renúncia de Joesley Batista ao conselho de administração.
Vicente Trius, diretor de novos negócios da JBS e presidente do colegiado, também renunciou ao cargo. Ele será substituído por José Vicente Marino, presidente da Flora, fabricante de cosméticos e produtos de limpeza controlada pelos Batista.
Wesley Batista, o irmão que não foi para Nova York, permaneceu no conselho.
A decisão também veio horas depois que a ISS, uma das maiores firmas de proxy advisory do mundo, recomendou aos acionistas que não aceitassem a relação de troca de 1,3 ação preferencial para cada ordinária proposta pela companhia.
A relação de troca enfrentava oposição de gestores brasileiros pois embutia um prêmio de controle aos Batista e diluía em cerca de 25% a participação dos minoritários.