A Ecorodovias venceu o leilão da ‘Nova Raposo’ oferecendo uma outorga de R$ 2,19 bilhões, duas vezes mais do que o segundo colocado. A ação desabou 20% na sequência. 

O segundo colocado foi a EPR, que propôs R$ 1,17 bilhão. A CCR — que é quem opera hoje a concessão — fez uma oferta de R$ 1,04 bilhão, enquanto a Via Appia ofereceu R$ 477 milhões. 

Num dia de forte estresse no mercado graças à inépcia do Governo Lula na questão fiscal, o papel da Ecorodovias já caía no início do pregão, mas despencou por volta das 16h30, saindo de R$ 6,35 para R$ 5,35. 

Apesar do ceticismo do mercado, o CEO Marcello Guidotti disse ao Brazil Journal que a Nova Raposo é “um ativo consolidado, com um contrato moderno e muitos mecanismos de mitigação de riscos.”

“Não acho que faz sentido essa comparação com o segundo colocado. Não ganhamos nada em olhar as premissas dos outros competidores,” disse o CEO. “O mais justo é comparar com a [Rota] Sorocabana, que tem métricas muito parecidas e saiu a R$ 1,6 bilhão de outorga.”

Guidotti disse que tanto no leilão da Sorocabana (vencido pela CCR) quanto no leilão de hoje a Ecorodovias fez a oferta mirando o mesmo retorno: uma TIR real alavancada de 16%. 

A concessão da Nova Raposo — que inclui o trecho da Raposo Tavares que liga São Paulo a Cotia, o trecho da Castelo Branco que conecta São Paulo a Barueri, além de trechos entre Cotia e Embu — vai demandar um capex de R$ 7,3 bilhões ao longo de 20 anos.

Parte do upside do ativo, no entanto, virá de uma maior eficiência na execução das obras de ampliação e melhorias. 

O CEO acredita que conseguirá fazer as obras com um capex 10% menor que o previsto no contrato, o que representaria uma economia de cerca de R$ 800 milhões. 

“O fato de ser uma obra principalmente em trechos urbanos permite encontrar outras soluções de engenharia que reduzem o capex,” disse Guidotti. “Tem túneis que dá para fazer trincheiras no lugar; viadutos que dá para fazer passagens laterais.”

Ele lembrou que na concessão da Ecoponte — que a companhia venceu em 2015 — o mercado também havia se assustado, “mas usamos um traçado diferente da proposta do Governo e conseguimos uma economia de 40% no capex.”

Para a Ecorodovias, outro ponto positivo da concessão é sua curva de capex, que se encaixa bem com o fluxo de investimentos da empresa.

A CFO Andrea Fernandes disse que a concessão tem um EBITDA alto no começo e um fluxo de capex maior só a partir do quarto ano. 

“Isso dá um fit bom com nosso balanço porque em 2024, 2025 e 2026 estamos com muitos investimentos da EcoRioMinas, da EcoNoroeste e da Ecovias do Araguaia. Então esse fluxo de investimentos da Nova Raposo vai começar quando o capex dessas três concessões começa a desacelerar,” disse a executiva.

Segundo ela, isso vai garantir que a Nova Raposo traga um impacto “quase imaterial” na alavancagem do grupo, que fechou o terceiro trimestre em 3,4x EBITDA. 

Parte importante do capex da concessão será para a desapropriação de residências e terrenos nos trechos que serão ampliados. 

A estimativa do Governo é que essas desapropriações demandem R$ 1,8 bilhão, dos quais cerca de R$ 900 milhões são em trechos urbanos — onde o risco é maior. 

Guidotti disse, no entanto, que o contrato tem mitigadores de risco para as desapropriações dos trechos urbanos, com o Governo compartilhando o custo excedente. O contrato prevê que até 110% do custo previsto pelo Governo não haverá reequilíbrio. De 110% a 140%, haverá o reequilíbrio de 80% da variação. E acima de 140%, o reequilíbrio será de 95%. 

O contrato diz ainda que esses reequilíbrios serão pagos com a própria outorga, que será depositada numa conta escrow para essa finalidade. 

Para financiar a outorga, a Ecorodovias levantou um bridge loan de 3 anos a CDI + 1,15%. 

O CEO disse que não vê necessidade de um follow-on no curto prazo, mas que a empresa vem estudando a reciclagem de ativos — por exemplo, a venda de participações minoritárias em concessões que já estão maduras, até como forma de mostrar o valor de seus ativos ao mercado.