Como se poderia imaginar, Luis Stuhlberger não gostou nem um pouco do aumento das alíquotas do IOF promovido pelo ministro Fernando Haddad – mas considerou a medida reveladora.
“É assustador ver o que o PT pensa da gente,” disse o fundador da Verde durante sua aguardada apresentação no evento anual da gestora hoje em São Paulo.
Como sempre em suas exposições, Stuhlberger apresenta dezenas de slides detalhados com indicadores e gráficos. Quando falou sobre o IOF, o quadro foi mais simples e direto.
Para o gestor, a decisão de elevar a tributação sobre as transações financeiras foi “quase uma aula grátis sobre a psicologia” do partido que governa o País.
“O mais assustador é a questão do dólar. Quer comprar dólar? Paga um pedágio para mim,” comentou. “É scary [assustador].”
Stuhlberger disse que o episódio indica o que esperar de um novo Governo do PT caso o partido vença no ano que vem.
Para o gestor, a reação dos mercados locais só não foi mais forte porque “a Faria Lima acha que o PT não vai ganhar” – e a perspectiva de substituição do Governo contém movimentos de desvalorização dos ativos brasileiros neste momento.
Stuhlberger disse que os investidores observam o que vem ocorrendo na Argentina e fazem posições achando que algo semelhante poderá acontecer no Brasil a partir de 2027.
“Se o Milei conseguiu, o Tarcísio consegue. É o que dizem,” afirmou. “É isso que segura o mercado, apesar do descontrole fiscal.”
O gestor disse considerar improvável que o Congresso evite o aumento dos impostos. “Nunca barram nada. Quero ver se isso acontece mesmo ou se apenas vai aumentar o preço do Centrão.”
Na visão do gestor, as taxas reais de juros voltarão para 3% ou 4% como ocorreu nos Governos Temer e Bolsonaro se for retomado um controle fiscal como foi o teto de gastos. Com isso, o dólar poderia cair para perto de R$ 4,70.
A aposta do ‘trade eleitoral’ ganhou força a partir de abril, quando as pesquisas mostraram queda na popularidade de Lula. O efeito pôde ser visto, por exemplo, na valorização das ações das empresas de utilities, que descolaram do Ibovespa.
Mas Stuhlberger tem dúvidas se há espaço para uma alta adicional nas ações locais. “A partir de agora, para a Bolsa melhorar, a NTN-B precisa cair.”
Aí, entretanto, entra a questão fiscal “e um Governo populista desesperado por dinheiro.”
O desarranjo nas contas públicas e a perspectiva de uma nova rodada de aumento de gastos focados no ano eleitoral – isenção do IR até R$ 5.000, reajuste do Bolsa Família etc. – impedem que os ativos brasileiros se apreciem no atual momento de reprecificação global desencadeada pelo choque do Governo Trump.
Boa parte da apresentação, de mais de uma hora, tratou da ‘era da diversificação’ – se chegou ou não o momento de os investidores reduzirem sua exposição ao mercado americano.
Stuhlberger notou que “a pasta de dente da diversificação saiu do tubo e não vai voltar;” o difícil é identificar quais mercados sairão ganhando.
A Europa também terá um gasto fiscal expansionista, inclusive por causa da ampliação dos gastos militares. O franco suíço, sempre um safe haven, já se apreciou consideravelmente.
“Não podemos esquecer que a Casa Branca quer desesperadamente enfraquecer o dólar,” disse.
O trade mais óbvio, dado o desalinhamento atual, seria apostar na valorização de alguns mercados emergentes e de moedas asiáticas, notadamente o iene japonês e o renminbi chinês, mas é incerto se elas vão se apreciar.
“Tirando o método, Trump está coberto de razão,” disse o gestor. “As moedas asiáticas estão muito depreciadas.”
Stuhlberger disse que a situação fiscal dos EUA, com déficits projetados para ficarem ao redor de 8% nos próximos anos, “é um abuso do privilégio exorbitante” de ser o país emissor do dólar.
“Não tenho nem palavras para descrever um déficit desses para uma economia como a americana. É algo típico do governo brasileiro – de não dar valor ao amanhã – conviver com um déficit desses.”
O gestor destacou que a ‘big, beautiful tax bill’ em discussão no Congresso, com redução de impostos e aumento de gastos, vai acrescentar algo como 1% do PIB ao déficit anual.
A lei traz até a isenção de imposto sobre as gorjetas, uma promessa de campanha de Trump. “É digno do Lula.”