Uma lei que autoriza a venda e aplicação de vacinas em farmácias — aprovada em 2014 — pode ser regulamentada pela Anvisa em breve, abrindo nova possibilidade de receita para as drogarias.
A Panvel — rede gaúcha de 370 lojas — estuda se antecipar e fazer encomendas de vacinas de gripe já para o próximo ano, disse o diretor de controladoria da rede, Antonio Napp, ao Brazil Journal. “Estamos muito otimistas, acho que assim que a Anvisa aprovar e tivermos o serviço, vai haver uma fila de clientes na porta”, disse.
Por conta das características do processo produtivo das vacinas, os pedidos têm que ser feitos com antecedência, e algumas concorrentes já tomaram o risco, afirma o executivo. (Se a regulação não vier, os lotes seriam revendidos.)
O sonho de toda rede brasileira de farmácias é o mercado americano. Por lá, se vende de tudo nas drogarias (inclusive medicamentos), e é possível até fazer consultas médicas, enquanto aqui as regras são bem mais restritivas.
Nos Estados Unidos, a vacinação nas farmácias foi liberada em 2009. De lá para cá, a imunização nas drogarias vem crescendo. O Centers for Disease Control (CDC) diz que 20% das vacinações em adultos na campanha 2011-12 foram feitas em farmácias.
A rede de farmácias Walgreen’s já é a segunda maior vacinadora do país, depois do governo americano. Em 2014, foram 7,6 milhões de vacinas contra a gripe – e 7,6 milhões de oportunidades para vender também uma caixa de aspirinas, produtos de beleza ou quem sabe um pacote de chicletes na mesma viagem. Por lá, é comum ver anúncios nas portas das farmácias com descontos nas compras para quem decidir se vacinar.
Em 2014, a lei nº 13.021 ampliou a oferta de serviços que podem ser oferecidos nas farmácias brasileiras, incluindo a aplicação de vacinas, testes rápidos de saúde e controle de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes. Mas ainda há pendências com a vigilância sanitária.
“No caso das vacinas, a Anvisa não regulamentou como devem ser as salas. A rigor, não dá pra saber o que fazer para conseguir a licença”, explica Sérgio Mena Barreto, presidente da Associação Brasileira de Farmácias (Abrafarma).
De acordo com ele, a agência já demonstrou apoio à atividade e a expectativa é que uma consulta pública sobre o tema seja publicada até o fim do ano.
Questionada, a agência é mais evasiva: “Temos uma discussão interna bem inicial sobre a possibilidade de vacinação em farmácias, a qual ainda não apresenta resultados possíveis de serem divulgados”, disse em nota ao Brazil Journal.
Os fabricantes de vacinas também vêem na liberação a oportunidade de construir um novo mercado. “É uma iniciativa que aumenta o acesso à imunização”, diz Nelson Mussolini, presidente do Sindicato da Indústria dos Produtos Farmacêuticos de São Paulo (Sindusfarma). Para ele, o aumento da concorrência reduzirá os preços. (Hoje, os laboratórios vendem as vacinas num preço tabelado, mas as clínicas de vacinação cobram a aplicação e ou a consulta.)
Enquanto a regulamentação não vem, as drogarias estão oferecendo outros serviços permitidos pela lei e que não dependem de regulamentação.
A Panvel lançou um programa de Atenção Farmacêutica, com sala própria de atendimento em 15 lojas, onde é feita a revisão de medicamentos e orientação sobre a forma correta de tomar os remédios.
Em 35 lojas, a rede já oferece outros serviços como verificação de pressão arterial, teste de glicemia na ponta do dedo, aferição de temperatura, aplicação de injetáveis e colocação de brincos.
Essas salas, no entanto, ainda não deram o retorno esperado. “O investimento já foi feito, mas a receita ainda não veio. Por enquanto o cliente vai à farmácia comprar alguma coisa e aproveita para usar o serviço, e não o contrário. É uma estratégia de fidelização, mas ainda não atrai clientes”, diz Napp.
Em teoria, todos esses pontos poderiam ser convertidos em pontos de vacinação com pouco investimento. “A maior questão é saber qual o tamanho e padrão das salas que eles vão exigir, mas a infraestrutura necessária é simples”, diz Napp.
A Pague Menos já tem um programa similar de Atenção Farmacêutica em 250 lojas da rede. Na Raia Drogasil, um piloto em cinco lojas faz aferimento de pressão e teste de glicemia há um ano.