A Simpar — a holding que controla a JSL, Vamos e Movida — está comprando a Ciclus Ambiental, uma empresa de valorização de resíduos que pertence à família Simões, que controla as duas companhias.

Os membros independentes do conselho da Simpar aprovaram ontem a aquisição, que acontecerá por meio da incorporação da CS Infra, uma holding que hoje pertence à família.

11745 f8c2799c b120 e06e 976b 4042aa2624e9A Ciclus é dona do aterro sanitário que atende à cidade do Rio de Janeiro por meio de um contrato de concessão com a Comlurb, a companhia municipal de limpeza urbana.

A empresa faz a gestão integrada do lixo – transbordo, transporte, disposição final, tratamento e valorização de resíduos sólidos — e cuida da destinação final de resíduos domiciliares de outras cidades fluminenses como Seropédica, Itaguaí, Mangaratiba, Piraí e Miguel Pereira, além de clientes comerciais.

Mais do que marcar a entrada da Simpar em uma nova  vertical de negócios — o setor de saneamento — a transação de hoje avança os planos da Simpar de criar um negócio de escala no setor de infraestrutura por meio da CS Infra, que vai operar rodovias, portos, mobilidade e saneamento.

Seguindo o playbook do CEO Fernando Simões — que gerou valor para a companhia por meio do IPO da JSL, da Vamos e da Movida — a CS Infra em algum momento deve ser listada na Bolsa.

Três concessões conquistadas pela Simpar no último ano serão colocadas debaixo da CS Infra: dois terminais portuários na Bahia (Aratu 12 e 18) e a Rodovia Transcerrados, no Piauí — regiões com demanda para o escoamento da produção do agronegócio e mineração. A companhia também é dona da concessão de BRT de Sorocaba.

O Itaú BBA forneceu um ‘fairness opinion’ que avaliou a Ciclus numa faixa de R$ 514-561 milhões; mas depois que o Tribunal de Contas do Município aprovar o rebalanceamento econômico do contrato de concessão, o valor da empresa deve subir para R$ 1,1-1,2 bilhão.

Já a ação da Simpar foi avaliada entre R$ 21,1 e R$ 29,7, um prêmio entre 96% e 175% sobre o valor de mercado de ontem.

O mercado gostou da transação: a ação da Simpar abriu em alta de 5%, mas cedeu junto com o mercado todo em meio ao clima de fim de festa gentilmente produzido pelo Governo.

Nas contas do Bradesco, o múltiplo implícito da aquisição é de 5,8x EV/EBITDA 2022; para efeito de comparação, a Orizon, a maior companhia listada do ramo, negocia a 10,8x.

Como a transação envolve partes relacionadas, a família Simões disse que vai acompanhar os votos da maioria dos acionistas minoritários.

A JSP Holding, o veículo pelo qual os Simões participam da Simpar e que é dono de 100% da Ciclus, vai receber 23 milhões de novas ações da Simpar, o que em princípio aumenta a participação da família na companhia de 56,2% para 57,4%. (Mas dependendo dos termos do rebalanceamento do contrato com o Rio, o stake da família pode alcançar 59,9%).

A Ciclus destina e trata cerca de 10 mil toneladas de resíduos sólidos por dia, transformando insumos poluentes em água desmineralizada, biogás e energia. Com sua infraestrutura atual, ela evita o lançamento de 20 mil m³/h de gás metano na atmosfera por dia, o equivalente à emissão de 300 mil veículos leves, ou 5% da frota de veículos leves na Cidade Maravilhosa.

Heloísa Cruz, gestora do fundo Stoxos e um dos analistas que mais conhecem a empresa, estima que a Simpar negocia a um desconto de 16% em relação à soma de suas participações nas subsidiárias listadas, ajustada pela dívida da holding.  Segundo ela, o mercado atribui um valor de equity negativo a todos os negócios não listados da empresa, incluindo a plataforma de comercialização de automóveis Original e a BBC, uma empresa de leasing e conta digital para caminhoneiros.

A Simpar vale R$ 8,8 bilhões na B3.