Depois de se formar em engenharia no Insper, Khalil Yassine foi trabalhar no investment bank do Citi.

Não satisfeito com o ritmo insano, decidiu usar seus fins de semana em outro trabalho: ajudar no pequeno comércio de utilidades domésticas que seu pai tinha no bairro de Lauzane Paulista, na Zona Norte de São Paulo.

12017 d47523ff ebaf ef34 2318 62556fe0ff43“Eu trabalhava alguns dias no caixa, outros no estoque e outros eu ia até o Centro, na 25 de março, para comprar os produtos,” ele disse ao Brazil Journal. “Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi o tempo que meu pai levava para abastecer o comércio.”

Essa experiência foi o embrião da Dolado, uma startup que ajuda os pequenos comerciantes de bairro a comprarem melhor seu estoque — economizando tempo e dinheiro.

Agora, a Dolado acaba de levantar R$ 53 milhões numa rodada liderada pela Valor Capital. A Série A também teve a participação do Flourish Ventures, do GFC, da Clocktower Ventures, do IDB e da Endeavor.

Mas o caminho da startup não foi uma linha reta.

Khalil fundou a Dolado junto com seus dois sócios — Guilherme Freire e Marcelo Loureiro, que cofundaram a startup de patinetes Grow — alguns meses antes da pandemia, o que obviamente obrigou os empreendedores a ajustar a rota.

“Naquele momento a empresa estava indo bem, dando certo, até que tudo mudou da noite pro dia,” disse Khalil. “Com a covid, o lojista deixou de se preocupar em comprar bem o estoque, porque ele não tava vendendo nada! O que ele precisava era vender.”

Para fazer do limão uma limonada, a Dolado deixou o produto de compra de estoque de lado e lançou uma solução gratuita que ajuda os lojistas a se digitalizarem.

Na prática, ela cria um catálogo digital com os produtos da loja em sua plataforma, e o comerciante pode compartilhar esse catálogo pelas redes sociais e Whatsapp com seus clientes.

O primeiro cliente da Dolado foi a loja do Seu Yassine, o pai de Khalil. Logo a solução chamou a atenção de outras lojas do bairro, até que um dos comerciantes “jogou a plataforma num grupo de Facebook, e o negócio viralizou.”

De março de 2020 até março do ano passado, a Dolado saiu de uma para mais de 5.000 lojas. De lá pra cá, esse número já subiu para 20.000 e deve fechar o ano em 100.000, segundo Khalil.

Com a base de lojas crescendo e o mundo começando a voltar ao normal, o empreendedor decidiu resgatar o produto original da startup e colocou no ar há um ano a plataforma de compra de estoques — começando pela primeira vez a monetizar a base. (A solução de digitalização permanece gratuita, como uma forma de adquirir clientes.)

A solução da Dolado funciona basicamente no modelo 1P: ela compra os produtos de fornecedores e depois revende para os lojistas, cuidando também da logística. Há pouco tempo, ela lançou também um marketplace para aumentar o portfólio, mas que ainda tem pouca relevância no volume.

Hoje, todos os clientes da Dolado são lojas de acessórios para celular e assistência, mas a ideia é entrar em novos segmentos nos próximos meses, bem como lançar novas soluções para os lojistas, incluindo uma de gestão financeira e um produto que vai automatizar a compra do estoque.

A Dolado vai se conectar ao estoque do lojista com um hardware, e quando algum produto estiver acabando, a compra será feita de forma automática.