Energy stocks are the new bonds.

Pelo menos é o que pensa o estrategista Louis-Vincent Gave, CEO da consultoria Gavekal.

Famoso por suas análises provocativas e contra a corrente – especialmente em relação à China, sua especialidade – Gave argumenta que o clássico portfólio 60/40 – 60% em ações, 40% em renda fixa – não funciona adequadamente num mundo estruturalmente mais inflacionário.

Para ele, ativos de energia e metais preciosos deveriam ocupar um papel antes reservado aos títulos públicos.

“Antigamente, a carteira ideal era composta por 60% em ações e 40% em títulos, com rebalanceamento trimestral. Depois era só ir para a praia e aproveitar. Isso gerava retornos incríveis,” Gave disse numa entrevista ao podcast Thoughtful Money. “Essa carteira morreu com a covid.”

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Para Gave, a estratégia deixou de fazer sentido porque “as políticas econômicas mudaram estruturalmente para uma postura muito mais inflacionária.”

Em sua opinião, um portfólio equilibrado deveria hoje estar alocado 60% em ações, 20% em metais preciosos e 20% em energia.

Segundo o MarketWatch, esse portfólio rendeu até agora 21% este ano, usando como referência o ETF DBP para metais preciosos (alta de 70% no ano) e o USO para energia, de petróleo e derivados (queda de 13% no ano). Já a carteira 60/40 clássica entrega 11% no ano.

Para Gave, a queda do setor de energia no ano – puxada pela desvalorização do petróleo – não deve ser vista como problema, porque essa posição serve de hedge para a carteira. “É o que vai reduzir a volatilidade se a inflação disparar.”

Gave vê no mundo pós-covid uma mudança de regime. Saem de cena quatro décadas de desinflação e queda nas taxas de juros, e começa um ciclo de déficits fiscais crônicos, militarização, re-shoring e queda nos investimentos em commodities – fatores que, em sua avaliação, representam um crescimento nominal mais elevado e uma inflação mais volátil.

Nesse ambiente, os títulos públicos não oferecem mais a correlação negativa de proteção contra crises. Não justificam, portanto, uma alocação de 40%.

Segundo Gave, atualmente há pouco investimento em novas refinarias e as empresas do setor pagam um dividendo elevado. “Então, tendo a acreditar que as ações de energia são os novos títulos, em um mundo no qual os títulos não funcionam mais,” disse.

A crítica possível a essa estratégia, segundo o MarketWatch, é que a carteira proposta por Gave pode não funcionar tão bem em um cenário de crise profunda e forte recessão. Em 2008, o S&P 500 desabou 37% e o ETF de petróleo mergulhou 56%, enquanto o Treasury de 10 anos deu um retorno de 20%.

Gave notou que o cenário de valorização do ouro poderá ser revertido no próximo ano – e a razão para isso é a China, mais especificamente o atual patamar extremamente depreciado do renminbi.

“Em 2026, a China terá que reavaliar a moeda, porque ela se tornou barata demais. Caso contrário, isso começará a criar problemas políticos para a China internacionalmente,” disse Gave. “Haverá uma reação muito negativa. Também tendo a acreditar que outras moedas asiáticas vão seguir o renminbi e se valorizar – e isso será um obstáculo para o crescimento.”

Para o estrategista, a crença em uma valorização exponencial do ouro se baseia na perspectiva de cortes agressivos de juros nos EUA e continuidade de compra do metal pelos bancos centrais asiáticos, que se recusam a apreciar as suas moedas. Isso, contudo, poderá mudar em 2026.

Se a moeda chinesa se valorizar, os investidores locais deverão procurar ativos que rendam algum yield – como fundos imobiliários e títulos corporativos.

“O ouro é um hedge contra juros muito baixos, e não contra a inflação,” afirmou. “No início dos anos 80, a inflação estava alta e o ouro estava desabando, porque as taxas de juros estavam subindo. Sabe quem tem comprado ouro? Os chineses, os sul-coreanos e os japoneses. Por quê? Porque as taxas de juros são zero por lá e a inflação está acelerando. Então, se você é um japonês rico, você pensa: ‘Bem, eu estou ganhando zero no banco. A inflação está em 3%. Sabe de uma coisa? Vou comprar ouro’.”