As ações da Marcopolo estão no nível mais baixo dos últimos dois anos.
O motivo: os empresários de ônibus pisaram no freio nas encomendas, fazendo a ação capotar 47% a partir do topo histórico atingido em março do ano passado.
A 3,80 reais, a Marcopolo está negociando a cerca de 12 vezes o lucro estimado para este ano. Há um ano, esse múltiplo era de 18-20 vezes.
Mas a ação pode ter algum alívio em breve. A partir desta sexta, a Marcopolo vai sair da composição do MSCI Brazil, um índice de referência para muitos fundos. Isso tem gerado uma pressão vendedora nas últimas semanas, o que deve terminar amanhã. E, mais importante ainda: a licitação de linhas interestaduais de ônibus, emperrada há meses na Justiça, pode finalmente sair através de uma medida provisória nos próximos 15 dias.
A Marcopolo tem 50% do mercado brasileiro de ônibus e dois clientes principais: os empresários de linhas urbanas (que operam dentro das grandes cidades) e os que operam linhas interestaduais.
Por motivos diferentes, ambos estão segurando os pedidos.
Há um ano, quando os brasileiros foram à ruas exigindo mudanças, a resposta de vários governos municipais foi congelar as tarifas de ônibus — cujo aumento havia sido um dos gatilhos da indignação popular. Assustados com a perspectiva de ficarem muito tempo sem aumento, os empresários cancelaram ou adiaram pedidos de novos ônibus à Marcopolo.
Os outros grandes clientes da empresa, os empresários de linhas interestaduais, também não tem feito novos pedidos porque estão no escuro. Suas permissões para operar as linhas estão vencidas desde 2008. No ano passado, o Governo tentou mudar a regulação do setor e organizar um leilão de concessões, mas resolveu empacotar linhas consideradas atraentes com outras de menor rentabilidade.
O objetivo era universalizar o serviço de ônibus através de um sistema de subsídios cruzados, em que uma linha muito rentável “financia” a operação de outra que não dá dinheiro.
“Mais uma vez, o Governo tentou passar o trator e começou a organizar o leilão sem falar com os empresários”, diz um acionista da Marcopolo. Resultado: o leilão empacou na Justiça e até agora não tem data marcada.
A ANTT informou que está recorrendo da decisão judicial que suspendeu o leilão. Mas agora o Congresso entrou no assunto e restabeleceu o regime de permissões com uma emenda a uma MP, que a Presidente Dilma pode sancionar nos próximos dias.
Apesar dos problemas, a Marcopolo já vê sinais tímidos de melhora.
No primeiro trimestre deste ano, houve uma retomada nos pedidos dos empresários de linhas urbanas. “Aos poucos, aqueles 20 centavos já foram colocados nas tarifas”, diz um analista que acompanha a ação. Mesmo assim, no primeiro trimestre a empresa ainda mostrou uma queda na produção ano contra ano.
Há um ano, as encomendas de ônibus na Marcopolo totalizavam quatro meses de sua produção. No quarto trimestre, passaram a representar apenas dois meses, e agora já estão um pouco acima de três.
“Essa empresa está passando por um problema pontual, não estrutural”, diz um gestor que está comprando a ação. “O que está acontecendo é uma postergação de encomendas. Em algum momento, essas linhas vão ter que ser licitadas, mas o mercado está completamente focado no curto prazo”.