A Amil e a Dasa acabam de anunciar a criação de uma nova empresa hospitalar, dando origem ao segundo maior player independente do setor depois da Rede D’Or, com foco em Rio, São Paulo e Brasília.

A transação robustece a proposta de valor dos planos da Amil e ajuda a Dasa numa desalavancagem crítica para o valor da empresa, além de proteger sua posição competitiva num setor que está se consolidando ao redor de grandes grupos.

10329 e169d8f2 9872 0000 0002 f10892766a69A união dos dois players “muda a geopolítica do setor,” disse um executivo. “Ela cria um novo equilíbrio de forças num mercado que estava pendendo muito para o lado de um único player” depois da compra da SulAmérica pela Rede D’Or. 

A transação também marca o primeiro M&A de José Seripieri Filho, o Júnior, desde que ele comprou a Amil numa transação de R$ 11 bilhões de enterprise value em dezembro passado. 

Como parte da operação, a Amil está contribuindo 11 hospitais para a joint venture — incluindo jóias da coroa como o Samaritano Higienópolis e o Samaritano Paulista — enquanto a Dasa contribui 14 hospitais, dos quais os mais relevantes são o Nove de Julho e o Leforte. 

A nova empresa será controlada 50% pelos acionistas da Dasa e 50% pela Amil, com as duas exercendo co-controle e nenhuma consolidando o resultado da JV em seu balanço. A companhia será uma operação independente, e o plano dos acionistas é abrir seu capital numa próxima janela de mercado para IPOs. 

O CEO será Lício Cintra, que hoje comanda a Dasa. Dulce Pugliesi, que fundou a Amil com Edson Bueno e hoje é controladora da Dasa, será a chair vitalícia da nova empresa. O board terá 9 membros: 3 da Amil, 3 da Dasa e 3 independentes.

A Dasa também está transferindo R$ 3,85 bilhões de sua dívida bruta de R$ 12 bilhões para dentro dessa nova empresa – o que, somado ao R$ 1,5 bi do aumento de capital que será efetivado agora pela família Bueno – reduz de imediato a alavancagem da Dasa para 3x EBITDA, em comparação aos 4,2x do fechamento do primeiro tri. 

A nova empresa terá 25 hospitais, 4.400 leitos e fez uma receita líquida pro forma de R$ 9,9 bilhões ano passado (dos quais R$ 5,7 bi vieram dos hospitais da Dasa e R$ 4,2 bi dos hospitais da Amil). Já o EBITDA desses hospitais foi de R$ 777 milhões (R$ 600 mi da Dasa e R$ 177 mi da Amil) em 2023.

A margem EBITDA – de 7,8% no ano passado – é consideravelmente menor que a de players como Rede D’Or e Mater Dei, que operam ao redor de 22%. Mas o número deprimido reflete o estado do negócio antes do início da gestão de Júnior na Amil, que começou em fevereiro, e a integração lenta das aquisições da Dasa nos últimos anos. 

“Olhando todas as sinergias, estruturas duplicadas, padronização e ganhos de escala, essa nova empresa tem uma capacidade grande de melhoria operacional, o que traz mais um motor de desalavancagem,” Lício disse ao Brazil Journal

Antes da transação, o índice de ocupação dos hospitais da Dasa estava em 80%, enquanto o da Amil girava ao redor de 70%. 

A nova empresa nasce com uma grande diversificação de fontes pagadoras; a maior delas continuará sendo a Amil, mas com apenas 20-25% do faturamento estimado. 

Antes da transação, a Dasa já era o segundo maior operador de hospitais do Brasil, mas o terceiro e quarto colocados tinham um tamanho muito parecido. A fusão com a operação da Amil deixa o terceiro player mais distante e reduz o gap em relação à Rede D’Or. 

Para efeito de comparação, a Rede D’Or tem 70 hospitais, 11.700 leitos, e fez uma receita líquida de R$ 47 bilhões no ano passado, com um EBITDA de R$ 6,3 bilhões – mas a comparação não é perfeita porque estes números incluem a SulAmérica. 

Sozinho, o negócio hospitalar da Rede D’Or fez uma receita de R$ 20 bilhões ano passado.

A Amil tem 3 milhões de beneficiários mas vem perdendo dinheiro há anos, o que acabou levando a UnitedHealth Group a vender o negócio. Em 2023, a Amil teve um prejuízo líquido de R$ 4 bilhões. 

A Dasa também fechou o ano passado no vermelho, com um prejuízo de R$ 1,1 bi. 

10830 d89a4c7b 1da4 1e71 18dc 7cb1796a5fcaOs hospitais da Dasa que fazem parte da transação são: Hospital Nove de Julho (SP), Unidade Nove de Julho Alphaville (SP), Hospital Santa Paula (SP), Hospital Leforte Liberdade (SP), Hospital Leforte Morumbi (SP), Innova Hospital (SP), Hospital e Maternidade Christóvão da Gama – Santo André (SP); Hospital São Lucas Copacabana (RJ), Complexo Hospitalar Niteroi (RJ), Hospital Nossa Senhora do Carmo (RJ); Maternidade Brasília (DF), Hospital Brasília Águas Claras (DF), Hospital Brasília (DF), e o Hospital Paraná (PR). 

Já os hospitais da Amil são: Samaritano Higienópolis (SP), Samaritano Paulista (SP), Alvorada Moema (SP), Hospital e Maternidade Madre Theodora (SP); o Hospital Pró-Cardíaco (RJ), os Hospitais Samaritano Botafogo (RJ), Samaritano Barra (RJ); Hospital Vitória Barra (RJ), Hospital e Maternidade Santa Lúcia (RJ); Hospital Alvorada Brasília (DF), e Hospital Santa Joana Recife (PE).

A Amil deixou de fora apenas dois de seus hospitais: o Promater, em Natal, e o Monte Klinikum, em Fortaleza – mercados onde tem uma grande carteira local. Já a Dasa excluiu três — o São Domingos (no Maranhão), o Hospital da Bahia e a clínica AMO, também na Bahia — e disse que deve vender esses ativos para continuar sua desalavancagem.   

Em paralelo à transação de hoje, a família Bueno tem mantido conversas com investidores estratégicos para um investimento minoritário no negócio de medicina diagnóstica da Dasa, o que ajudaria a companhia a  desalavancar ainda mais. 

A Dasa fechou o pregão de ontem valendo R$ 3,5 bilhões. 

BR Partners, Santander e o Lefosse Advogados assessoraram a Amil. 

O BTG Pactual, o Stocche Forbes e a Astoria assessoraram a Dasa.