NOVA YORK – Uma de 92 bibliotecas públicas desta cidade, a Biblioteca de Artes Performáticas de Nova York fica dentro do complexo do Lincoln Center, ao lado do teatro.
Seu acervo: oito milhões de livros, objetos, áudios, vídeos de peças e musicais que já saíram de cartaz, e documentos que datam desde o século XI – incluindo fios de cabelo de Ludwig von Beethoven, um lápis mastigado da compositora alemã Clara Schumann, e uma sapatilha de ponta da bailarina russa Anna Pavlova.
A partir deste mês todo esse mundo lúdico está sob a direção da carioca Roberta Pereira, que trabalha há 15 anos na indústria teatral de Manhattan.
Além da compra de livros, discos e arquivos para o acervo, Roberta será responsável pela arrecadação de fundos.
“Na biblioteca, 100% do orçamento vem de contribuições. As exposições, eventos e shows são gratuitos,” diz ela, que foi pescada por um headhunter e navegou quatro meses pelo processo de seleção, concorrendo pelo cargo com dezenas de americanos.
“Instituições como esta atuam como organizações não-governamentais; a forma de o governo incentivá-las é não cobrando impostos,” disse ela. “Os doadores vêem nesta colaboração uma forma de participar da sociedade.”
Na adolescência, Roberta estudou na Inglaterra, de lá seguiu para os Estados Unidos, onde cursou Artes Liberais na Wesleyan University, e em seguida completou seu mestrado em Yale.
Em Wesleyan, conheceu Lin-Manuel Miranda, hoje um dos nomes mais respeitados do teatro e do cinema e o criador de Hamilton, na Broadway. A amizade dos dois fez com que Roberta se tornasse consultora da Miranda Family Fellowship, um braço da fundação do artista.
Sua experiência em teatro inclui ainda cinco anos produzindo peças premiadas na Broadway e no West End de Londres.
“Estas grandes produções têm seu glamour, mas não me deixavam tão satisfeita quanto o meu último trabalho,” diz ela, que até o mês passado era diretora executiva da Playwrights Realm, um ponto de apoio para novos roteiristas e produções off-Broadway.
Lá, Roberta deu suporte a mais de 500 artistas e produziu nove shows – um deles, The Wolves, foi indicado ao Pulitzer em 2017. A ajuda ia da solicitação de vistos à contratação de babás para cuidar dos filhos dos atores nas horas dos shows.
“Arte é melhor quando há inclusão. Mas para isso acontecer é preciso pensar em todos os obstáculos,” diz ela. “É isso que vou trazer para a biblioteca.”
Filha de um médico e uma educadora, Roberta sempre andou com um livro debaixo do braço.
“Na infância, meus pais me levaram para ver a peça O Jardim das Borboletas, onde vi “o vento” entrando no palco de patins. Pedi para voltar várias vezes,” lembra.