O que François Pinault, Arnaud Lagardère, Bernard Arnault e Xavier Niel têm em comum?
Quando querem uma boa refeição, os maiores empresários franceses frequentemente vão ao Chez L’Ami Louis, um restaurante minúsculo de apenas 14 mesas na Rue du Vertbois, no 3e arrondissement, perto da Lycée des Arts et Métiers.
Não é para os mortais. Conseguir uma mesa no ‘Louis’ — como os íntimos o chamam — é quase impossível e exige muito QI (‘quem indica’).
Na semana passada, esse diamante bruto da gastronomia francesa trocou de mãos, 95 anos depois de ter sido fundado pelo chef Antoine Magnin.
O comprador foi a LVMH, o conglomerado dono da Louis Vuitton, Dior, Céline, Loewe e outras 70 marcas de luxo.
A transação, de aproximadamente € 20 milhões, é minúscula para o tamanho da empresa, que vale mais de € 358 bilhões na Bolsa. O que certamente pesou foi o fator emocional: Bernard Arnault e sua família são frequentadores assíduos, e têm obsessão por preservar a identidade e expressão cultural de Paris.
Quando a catedral de Notre Dame pegou fogo, por exemplo, Arnault doou US$ 200 milhões para sua reconstrução.
A LVMH descreveu o L’Ami Louis como “uma autêntica jóia parisiense” e disse que vai trabalhar “para preservar a característica única e a identidade familiar do restaurante,” continuando a apoiar seu “savoir-faire e expertise franceses.”
O L’Ami Louis sempre atraiu clientes celebridades, que nunca se importaram em se espremer no espaço exíguo para provar suas iguarias.
Ali já jantaram Bill Clinton, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Roger Federer, Hugh Grant e Johnny Depp, além do casal Beckham — para citar alguns poucos.
O restaurante é famoso por seu frango assado e batatas fritas fininhas e crocantes — servidas numa pilha formando uma pequena montanha — além dos pratos clássicos da culinária francesa, como os escargots e o foie gras.
No subsolo, o bistrô também abriga uma adega com mais de 10 mil rótulos e avaliada em US$ 6 milhões. (A descida é por um escadinha íngreme e apertada.)
O L’Ami Louis construiu sua reputação com base na generosidade de seus pratos e na qualidade excepcional de seus ingredientes. O restaurante compra seus produtos de pequenos criadores e horticultores “leais ao restaurante por inúmeras gerações,” disse o novo proprietário.
O bistrô foi fundado em 1929 pelo chef Antoine Magnin, que literalmente morava no restaurante (sua casa ficava no andar de cima). Pouco antes de sua morte, em 1987, Magnin vendeu o restaurante para Thierry de la Brosse, um executivo que frequentava o bistrô há décadas.
Quando de la Brosse faleceu, em 2010, o Louis passou a ser tocado por Louis Gadby, que começou como maître do restaurante antes de ser ‘promovido’ a dono. (Louis continua com cerca de 20% do negócio — não vendeu nada.)
O preço dos pratos é do tamanho da fama. O frango assado para dois sai por cerca de € 120 (R$ 700, no câmbio de hoje), enquanto o foie gras custa na faixa dos € 70 (R$ 400).
Um jantar com um vinho ‘médio’ custa € 250-300 por cabeça. Brasileiros assíduos incluem Joyce Pascowitch, Boni e Boninho, Naji Nahas, Fabio Ermírio de Moraes, Ricardo e Carolina Lacerda, o marchand Gugu Steiner e o casal Júnior e Daniela Filomeno Seripieri.
“É um lugar muito simples, sem frescura,” disse um empresário brasileiro que tem casa em Paris e frequenta o Louis. “Essa simplicidade contrasta muito com a qualidade da comida — e com o preço.”
Este empresário notou ainda que a compra pela LVMH não é um movimento óbvio. “É um restaurante muito pequeno, artesanal e não escalável,” disse ele. “Tem um espaço vazio do lado, e eu sempre perguntei ao Louis por que ele não expandia para lá, e ele fala que preferia continuar uma coisa pequena, seleta – e que se fosse preciso preferia aumentar o preço dos pratos ao espaço do restaurante.”
Os preços exorbitantes já geraram críticas ao Louis — especialmente da imprensa local. Mas numa entrevista à crítica de gastronomia Alexandra Forbes, Louis rebateu os detratores. “Não leio nem dou a menor bola,” disse. “Se eles frequentassem os mercados saberiam que produto bom custa caro.”
Ele disse ainda que o L’Ami Louis nunca muda seu cardápio nem a decoração. “Só nos adaptamos à estação: cogumelos girolles no verão, carnes de caça no outono. E retocamos a pintura.”
Arnault jura que comprou o Louis para deixar tudo como está. Tomara. O histórico de restaurantes de excelência comprados por grandes grupos não inspira confiança; muitos perdem qualidade e vêem o serviço piorar.
Os fãs do Louis rezam para que o futuro do bistrô reflita o velho ditado francês: “Plus ça change, plus c’est la même chose.”