A Cosan reportou um prejuízo de R$ 9,3 bilhões no quarto tri, uma clássica limpeza de balanço num momento em que a holding de Rubens Ometto tenta reduzir seu endividamento e ajustar sua estrutura de capital.
O bottom line desastroso teve a ver principalmente com o impairment da posição de Vale, que respondeu por R$ 4,7 bilhões do total. Outros R$ 1,2 bi vieram do prejuízo da Raízen, que está passando por um turnaround depois da troca de management, e outros R$ 2,8 bi de uma baixa de prejuízos fiscais que tem apenas efeito contábil.
“Este é um trimestre para virar a página na empresa,” o CFO Rodrigo Araujo disse ao Brazil Journal. “Nosso acionista controlador está mostrando um desapego e um pragmatismo enormes. Estamos tomando todas as medidas necessárias para que 2025 seja um ano significativamente melhor.”
Depois de sua aposta errada na Vale — em que o papel da mineradora caiu e a alta da Selic explodiu a conta de juros — Ometto zerou a posição em janeiro, mas a companhia fez o impairment no valor do prejuízo realizado já no quarto tri.
Depois da venda da Vale, a dívida da Cosan caiu para R$ 15,3 bilhões. A companhia tem ainda um saldo de ações preferenciais do Bradesco e Itaú de R$ 8,6 bilhões. Essas ações preferenciais – que o mercado trata como dívida – são servidas com dividendos da Compass e da Raízen.
Já o índice de cobertura — que mede quanto os dividendos recebidos pela holding são capazes de servir a conta de juros — ficou próximo de 1x. Ou seja, todos os dividendos recebidos pela holding hoje são destinados a cobrir sua despesa financeira.
No passado recente, quando a empresa era menos alavancada, esse número girava ao redor de 1,3x, e o objetivo da Cosan é levar o indicador para próximo de 1,5x nos próximos dois anos.
O CFO disse que “todas as opções estão na mesa” em termos de venda de ativos para reduzir ainda mais o endividamento da holding. “Os temas-chave para 2025 serão maximizar nossa disciplina e a assertividade nas decisões de alocação de capital,” disse ele. “Queremos olhar para a frente novamente.”
Apesar dos desafios na nave-mãe, a Rumo e a Compass apresentaram os melhores resultados da história.
Como parte da desalavancagem, o mercado tem especulado que Ometto poderia vender uma fatia da Compass, a gigante de distribuição de gás que a Cosan controla com 88% do capital. O CFO disse ao Brazil Journal que nenhuma alternativa está descartada, mas que “a Compass é um ativo muito relevante para o futuro do grupo.”
No ano passado, a Compass entregou um EBITDA de R$ 4,5 bilhões, dentro do guidance e 5% acima do ano anterior. Mesmo pagando R$ 3 bi em dividendos ao longo do ano, a Compass conseguiu manter sua alavancagem em 2x EBITDA.
“A Compass é hoje a subsidiária mais valiosa do portfólio da Cosan, e continua uma geradora de caixa estável e previsível,” escreveu Thiago Duarte, que cobre a companhia no BTG.
O analista, que tem ‘compra’ para a ação da Cosan, notou que o desconto de holding da companhia está em mais de 50% — o que “parece excessivo.”
Este desconto “reflete as preocupações do mercado sobre a sustentabilidade do balanço depois de um intenso ciclo de investimentos, a performance fraca de alguns investimentos e a alta dos juros,” diz o BTG. “Mas mantemos a ‘compra’ na esperança de que o senso de urgência demonstrado recentemente prevaleça e que haja agilidade para endereçar a estrutura de capital.”
“Se estivermos certos, as ações da Cosan oferecem um combo poderoso de desalavancagem e uma redução no desconto de holding.”
Rodrigo disse que a Raízen também deve começar a apresentar resultados melhores este ano, depois de uma mudança na estratégia e no management.
“Acreditamos que o grosso da infelicidade da Raízen já ficou para trás. O novo management já fez boa parte das mudanças que precisavam ser feitas,” disse ele.
A Cosan fechou o dia valendo R$ 13,4 bilhões. A ação cai 60% nos últimos doze meses.