A Cosan Limited anunciou hoje que vai gastar US$ 200 milhões para recomprar até 12% de suas ações, sinalizando ao mercado que sua aposta mais arriscada – a Rumo – já está se pagando e que o desconto de 40% da holding em relação à soma de seus ativos é exagerado.

A recompra endossa a confiança de Rubens Ometto Silveira de Mello na holding, listada na NYSE sob o ticker CZZ.  É por meio da CZZ que Rubens controla a Cosan, listada no Brasil como CSAN3.

A CZZ disse que vai recomprar seus papéis num intervalo entre US$ 9,23 e US$ 9,65, um prêmio de 10% a 15% em relação ao fechamento do papel na sexta-feira. A poucos minutos do fechamento do pregão, o papel subia 8,40% para US$ 9,10 em Nova York. 10269 d92955d6 ec04 1ff8 0049 3713fff17610

Se a CZZ passar a negociar nos valores propostos na operação, o desconto em relação à soma de seus ativos cairá para a faixa de 25% a 30%, ainda acima do desconto sofrido por outras holdings como Itaúsa e Bradespar. 

Se a recompra atingir os US$ 200 milhões e os papéis forem cancelados, a participação de Rubens na CZZ subirá de 41% para 45%. 

“A Comgás vai bem, a Raízen vai bem, e agora a Rumo também é um case com muito menos risco, mas parece que o mercado não vinha entendendo isso para CZZ”, diz um gestor comprado no papel.

O desconto em relação aos ativos, que já foi de cerca de 10% quando a Cosan era apenas uma companhia de açúcar e álcool, disparou nos últimos dois anos, quando o grupo decidiu investir na antiga (e endividada) ALL – rebatizada de Rumo Logística.

No começo do ano passado, quando a Rumo precisou de um aumento de capital a R$ 2,50 por ação, a CZZ se endividou, com a emissão de US$ 500 milhões em bônus.

Mas a aposta se pagou: a Rumo não só sobreviveu, como prosperou e agora, após um novo aumento de capital a R$ 12 concluído em outubro, a estrutura de capital finalmente está mais redonda

Os juros de uma nova emissão de bônus da CZZ em setembro – que rolou em parte a primeira e financiou o novo aporte – evidenciam a diminuição do risco: os mesmos US$ 500 milhões foram levantados por 5,95%, comparado a uma taxa de 7% no ano anterior.

Ao mesmo tempo, o grupo arrumou o andar de baixo. No ano passado, vendeu a Radar, a empresa de terras agrícolas que estava embaixo da CSAN3, por R$ 1 bilhão.  

Há pouco mais de um mês, quando a Shell decidiu exercer uma opção de venda de sua participação 17% na Comgás para a CZZ, a controladora transferiu a participação para a CSAN3, que já concentrava o investimento na distribuidora de gás e pagou R$ 1,1 bilhão à controladora, dos quais R$ 948 milhões à vista. 

A CZZ, por sua vez, pagou a Shell principalmente com ações: deu 4,99% da CSAN3 em troca da fatia da Comgás e vai desembolsar apenas R$ 400 milhões em cash na transação. De endividada, a holding ficou líquida, o que viabilizou a recompra.

“Com a distribuição de dividendos da CSAN neste ano, não seria de se admirar que a CZZ passe a ter caixa líquido”, diz o gestor que tem o papel. “Esses caras da Cosan foram os que melhor alocaram capital na última década: saíram de uma empresa de açúcar e álcool para distribuição de gás, de combustíveis e fizeram na Rumo o que a 3G nunca conseguiu fazer com a ALL. Se eles estão alocando capital na CZZ agora, é porque vale a pena”.