A gestora americana GQG Partners acaba de publicar uma carta em que diz que este é o momento para investir nas ações de países emergentes, e o Brasil é um dos alvos preferidos.

O motivo da “mudança de maré” nesses mercados vai além de boas taxas de crescimento econômico, demografia favorável ou valuation atrativo.

“Os retornos medíocres das ações chinesas no longo prazo demonstram que esses fatores, por si só, não são suficientes,” diz a carta.

Para a GQG, o que deve impulsionar as bolsas são os resultados das empresas – especialmente no Brasil, na Índia e na Indonésia.

“No nosso escritório, há uma placa onde se lê: ‘Os lucros são como a gravidade’, pois acreditamos que, no longo prazo, os preços das ações seguem os lucros,” diz a casa.

Rajiv jainBaseada em Fort Lauderdale, na Flórida, a GQG tem US$ 153 bilhões sob gestão, boa parte alocada em mercados emergentes. O fundador e chief investment officer é Rajiv Jain, que fundou a gestora em 2016 depois de uma carreira de 23 anos na Vontobel Asset Management.

No Brasil, a GQG é uma das maiores acionistas de Petrobras, Itaú e MercadoLivre.

A carta da GQG – que forma opinião entre gestores globais – vem num momento de descrença generalizada com os mercados emergentes depois de anos de underperformance, e é mais um call de diversificação para fora dos EUA e de visão construtiva com o Brasil corporativo.

Segundo a gestora, depois de ficarem estagnados entre 2010 e 2019, os lucros das companhias abertas no Brasil, Índia e Indonésia cresceram em níveis comparáveis aos das empresas americanas desde 2020, tanto em dólar quanto em moeda local.

Isso apesar das bolsas desses países – alguns dos preferidos da GQG – terem exposição mínima ao setor de tecnologia.

Segundo a gestora, o lucro por ação nos Estados Unidos cresceu 9% ao ano nesse período, a mesma taxa da Índia, em dólares; no Brasil e na Indonésia, a expansão foi de 6%, também em dólares. 

Em moeda local, a expansão foi de 16% no Brasil, 13% na Índia e 9% na Indonésia. 

A gestora destaca que o valuation não refletiu esse aumento dos lucros, já que as ações nesses mercados estão mais baratas hoje do que no início da década.

A carta também faz uma análise histórica dos Estados Unidos – lembrando que o país já foi um emergente – e do desempenho dos emergentes nas últimas décadas, lembrando que esses mercados são cíclicos e a volatilidade pode ser feroz. 

“Não estamos sugerindo que os mercados emergentes de hoje se tornarão as superpotências de amanhã,” diz a carta. “Na verdade, muitos – senão todos – permanecerão como emergentes pelo restante de nossas carreiras.”

Mas para a GQG, os investidores estrangeiros que têm reduzido os investimentos nesses países estão cometendo um erro. 

“Ao contrário da percepção popular,” essa classe de ativos “tem apresentado retornos sólidos no longo prazo,” diz a gestora. 

O MSCI Emerging Markets entregou um rendimento anual de 9% desde que foi lançado em 1988 – frente aos 11% do S&P 500.

Para a casa, os mercados emergentes são grandes demais para serem ignorados, por responderem por cerca de 50% do PIB global e estarem melhorando seus fundamentos, ainda que de forma lenta.  

A gestora aponta como pontos positivos, de forma geral, a redução do déficit comercial, a diminuição da alavancagem das empresas e a solidez do sistema financeiro.

Mas ressalta que, no caso do Brasil, o principal risco é o aumento do gasto público no governo atual.

“No entanto, acreditamos que estamos sendo pagos para esperar, considerando os dividendos robustos e o fato de que as próximas eleições ocorrerão em menos de dois anos.” 

A GQG afirma ainda continuar otimista com a Petrobras, “que possui algumas das reservas de petróleo de maior qualidade no mundo e oferece um retorno via dividendos na faixa dos dois dígitos.”

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